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cronicas-->ANTES DO CAFEZINHO -- 03/01/2007 - 15:28 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ANTES DO CAFEZINHO

Dr. Firmino Pinto entrou na lanchonete bem na hora que a TV noticiava a execução de Sadam Hussein. Havia cerca de uma dúzia de clientes com os olhos pregados no aparelho de 29 polegadas preso à parede por grossas barras de ferros. Embora o estabelecimento fosse um lugar simples, era frequentado por gente de todas as classes devido à limpeza do lugar e a simpatia não só do proprietário - um senhor de idade - com também dos funcionários.
-- Bem feito - disse um rapazinho de vinte e poucos anos. -- Teve o que mereceu.
-- Vai perecer no inferno - comentou um outro mais velho, cujas roupas sujas de graxa denotavam tratar-se de um mecànico ou coisa parecida - pelos crimes que cometeu.
Dr. Firmino também se aproximara do grupo para melhor acompanhar a notícia. Viera tomar um cafezinho, mas também se sentia tentado a prestar atenção ao noticiário.
-- Isso é uma barbaridade! -- protestou um jovem negro de óculos, bem arrumado. -- Ninguém tem o direito de tirar a vida do outro; só Deus - acrescentou com certa indignação.
Houve um princípio de tumulto, pois a maioria discordava do rapaz.
-- Eles é quem estão certos - discordou um senhor barbudo, aparentando ter uns trinta e cinco anos. Pelo uniforme e o capacete embaixo do braço podia-se saber que trabalhava na construção civil, muito provavelmente na construção de um prédio há poucos metros dali. -- Deviam fazer o mesmo aqui no Brasil, assim não haveria tanta criminalidade. -- O Doutor não concorda? -- perguntou, dirigindo-se ao Dr. Firmino.
-- Em nenhum dos casos - respondeu. Aqueles que ouviriam a resposta do Dr. Firmino pararam de olhar para a TV e encararam-no surpresos. -- Nem no caso de Sadam, nem na aplicação da pena de morte no Brasil. Isso não resolve o problema da criminalidade.
-- Mas Doutor - tornou o mesmo homem --, O senhor não acha que ele merecia morrer pelos crimes que cometeu? Dizem que ele mandou matar milhares de pessoas.
-- Como posso concordar com uma farsa dessas? Não, não concordo mesmo! Ninguém mais do que o Bush queria ver o Sadam morto. E esse julgamento foi orquestrado pelos EUA, ninguém mais. Não foi o povo iraquiano quem o julgou, mas os EUA e seus aliados. A condenação de Sadam foi um prêmio de consolação para o Bush, já que ele não conseguiu prender o Bin Laden...
-- Mas Doutor, ele mandou bombardar uma cidade e muitos inocentes morreram - insistiu o homem argumentando.
-- Isso mesmo! Ele merecia morrer - concordou o rapazinho de vinte e poucos anos.
-- Nada disso - gritou o jovem negro de óculos.
Houve novamente um tumulto de vozes. Dr. Firmino permaneceu calado até que o tumulto cessasse. Só então começou a falar:
-- Eu sei que cada um tem o direito de pensar o que bem quiser, mas se fosse assim, o Bush e Tony Blair também deveriam ser condenados à forca. Eles não mentiram para o mundo inteiro que Sadam tinha armas de destruição em massa e que estava envolvido com os ataques às torres? E depois o que aconteceu? Descobriram que Sadam não estava envolvido e que o Iraque não tinha as tais armas - A maioria prestava atenção ao que ele dizia, até porque o noticiário não falava mais da execução de Sadam e sim da guerra na Somália. E ao ouvirem o Dr. Firmino dizer essas palavras, muitos concordaram com ele. -- Aliás - continuou --, essa foi a justificativa para a invasão do Iraque e a derrubada de Sadam. Agora me diz, meu rapaz, -- O Dr. Firmino dirigiu-se ao rapaz de vinte e poucos anos - e os milhares de inocentes mortos pelas tropas dos EUA e da Inglaterra? Não foi Bush quem os mandou para lá, para invadir o Iraque? Então ele também deve ser julgado e condenado.
Como última tentativa, o rapaz de vinte e poucos anos ainda tentou argumentar:
-- Mas doutor. Os Estados Unidos invadiu o Iraque para libertar seu povo de um ditador.
-- Ah, meu rapaz! -- exclamou o Dr. Firmino. -- Você ainda é jovem e não sabe das coisas. Veja bem: os EUA não só destruíram o Iraque como foram os responsáveis direta ou indiretamente pela morte de milhares de iraquianos inocentes. Se os EUA não tivessem invadido o Iraque, Sadan ainda estaria no poder e mantendo o povo iraquiano unido. Agora estão todos matando uns aos outros, pois não existe ninguém forte o bastante para pór fim a essa matança. E vão continuar a se matar por muito tempo, até que não existam muitos para morrer. Não vai ser os EUA com mais soldados que vai conseguir parar com isso. Enquanto um grupo não se tornar poderoso o bastante para controlar o outro com mãos de ferro, como fazia Sadam, a matança vai continuar. Não se iluda, meu jovem! A paz no Iraque só acontecerá quando surgir um novo Sadam.
-- Sendo assim, a morte de Sadam terá sido em vão - disse um outro senhor, que até então não havia se manifestado.
-- Sim e não - disse o Dr. Firmino. -- Sim, porque não resolverá o problema do Iraque e do Oriente Médio; e não, porque agora Sadam terá se transformado num mártir, num herói para muitos. Até na hora de condenar Sadam, os EUA enfiaram os pés pelas mãos.
A discussão poderia ter se prolongado mais, mas Dr. Firmino não dispunha de tempo: ia se encontrar com um cliente dali a dez minutos. Por isso pediu à garçonete:
-- Tenha a bondade de me servir um cafezinho.




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