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cronicas-->GRITAR ANTES, CAIR NA FOLIA DEPOIS -- 17/02/2007 - 17:46 (JOSÉ RICARDO ZANI ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O carnaval está aí. Momento para brincar, vestir fantasia e se divertir. Ou apenas pra relaxar.

Acontece que está cada vez mais difícil entrar na fantasia sem, antes, gritar contra essa realidade.

Tudo bem, já sabemos que nem tudo por aqui é muito sério. Que o diga De Gaulle, há décadas quase execrado quando insinuou algo nesse sentido.

Tá. Mas, bem ou mal, a maioria de nós já se acostumou com a idéia de viver num pedaço do novo mundo à moda de um mundo bem antigo.

A questão é saber quando isso vai melhorar.

Veja: uma das cidades mais belas do mundo é nossa. Mas, perdoe-nos S. Sebastião do Rio de Janeiro, dela fizeram o epicentro de uma epopéia urbana!

Ah, sim, construímos outra capital federal. Planejada, futurista, deslumbrante arquitetura. Porém, já cercada por cinturões de favelas veladamente cultivados pelo neo-populismo e incentivados por quem neles se elege com promessas de lotes em terras públicas e muitas doações de falsa ajuda, aquela forma de auxílio que perpetua miséria na periferia e raposas no poder.

Reescrevemos a Constituição, fizeram um estatuto da criança com altas inspirações no primeiro mundo e adotamos concepções de direitos humanos também importadas de frentes tidas como avançadas. Mas não se quis copiar do mundo avançado as leis penais, o modelo policial e o sistema carcerário. Nem tampouco a rigidez do controle e fiscalização da gestão pública.

Não se medem esforços para ter (e vender) tecnologias de ponta. A TV com transmissão digital está aí. GPS e DVD nos carros, também. Mas nada se faz pela ordem no trànsito nem pelas rodovias. Nem mesmo projetos. Só remendos sobre remendos de asfalto, com validade até a data do pagamento às empreiteiras.

Conseguimos escalar um brasileiro em viagem espacial da NASA. Mas aqui embaixo nossos aviões colidem entre si num prosaico tour doméstico.

Novamente, todos os esforços em nome do acesso à tecnologia de ponta. Há mais de cem milhões de celulares nas mãos da população. Mas grande parte dela segue a comer nas mãos do crime organizado (cuja existência a enferrujada legislação não reconhece) por culpa da omissão e descaso do poder público.

Os bandidos espalham o bang-bang, saqueiam dentro das cercas alheias, explodem as metrópoles e trucidam crianças nas ruas da cidade maravilhosa.

Diante de tudo isso, o que fazem os homens que têm o poder e o dever de agir?

Insistem alguns iluminados que nada se deve fazer por enquanto, senão aceitar os fatos, rever nossa história e discutir teses antropológicas. Quem sabe, ainda queiram filosofar sobre o sexo dos anjos. Ou então nos pedir: "sentem-se, que o leão é manso".

Então, vamos cair na folia (mas cuidado com a ressaca). A propósito, fiquei sabendo que vai desfilar um bloco chamado "FRANCELINO, QUE PAíS É ESTE?"
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