O carnaval está aí. Momento para brincar, vestir fantasia e se divertir. Ou apenas pra relaxar.
Acontece que está cada vez mais difícil entrar na fantasia sem, antes, gritar contra essa realidade.
Tudo bem, já sabemos que nem tudo por aqui é muito sério. Que o diga De Gaulle, há décadas quase execrado quando insinuou algo nesse sentido.
Tá. Mas, bem ou mal, a maioria de nós já se acostumou com a idéia de viver num pedaço do novo mundo à moda de um mundo bem antigo.
A questão é saber quando isso vai melhorar.
Veja: uma das cidades mais belas do mundo é nossa. Mas, perdoe-nos S. Sebastião do Rio de Janeiro, dela fizeram o epicentro de uma epopéia urbana!
Ah, sim, construímos outra capital federal. Planejada, futurista, deslumbrante arquitetura. Porém, já cercada por cinturões de favelas veladamente cultivados pelo neo-populismo e incentivados por quem neles se elege com promessas de lotes em terras públicas e muitas doações de falsa ajuda, aquela forma de auxílio que perpetua miséria na periferia e raposas no poder.
Reescrevemos a Constituição, fizeram um estatuto da criança com altas inspirações no primeiro mundo e adotamos concepções de direitos humanos também importadas de frentes tidas como avançadas. Mas não se quis copiar do mundo avançado as leis penais, o modelo policial e o sistema carcerário. Nem tampouco a rigidez do controle e fiscalização da gestão pública.
Não se medem esforços para ter (e vender) tecnologias de ponta. A TV com transmissão digital está aí. GPS e DVD nos carros, também. Mas nada se faz pela ordem no trànsito nem pelas rodovias. Nem mesmo projetos. Só remendos sobre remendos de asfalto, com validade até a data do pagamento à s empreiteiras.
Conseguimos escalar um brasileiro em viagem espacial da NASA. Mas aqui embaixo nossos aviões colidem entre si num prosaico tour doméstico.
Novamente, todos os esforços em nome do acesso à tecnologia de ponta. Há mais de cem milhões de celulares nas mãos da população. Mas grande parte dela segue a comer nas mãos do crime organizado (cuja existência a enferrujada legislação não reconhece) por culpa da omissão e descaso do poder público.
Os bandidos espalham o bang-bang, saqueiam dentro das cercas alheias, explodem as metrópoles e trucidam crianças nas ruas da cidade maravilhosa.
Diante de tudo isso, o que fazem os homens que têm o poder e o dever de agir?
Insistem alguns iluminados que nada se deve fazer por enquanto, senão aceitar os fatos, rever nossa história e discutir teses antropológicas. Quem sabe, ainda queiram filosofar sobre o sexo dos anjos. Ou então nos pedir: "sentem-se, que o leão é manso".
Então, vamos cair na folia (mas cuidado com a ressaca). A propósito, fiquei sabendo que vai desfilar um bloco chamado "FRANCELINO, QUE PAíS É ESTE?"