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cronicas-->Marmelada Colombo -- 19/02/2007 - 19:59 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Marmelada Colombo

Quando eu tinha oito ou nove anos, ficava na porta do bar e observava os andarilhos sem destino que vinham andando ao longo das estradas e cruzavam sem destino a Vila de Água Doce. Ora seguiam para o Norte, na direção de Ataléia, ora iam para o Sul, na direção de Mantena. Irritavam-me, de maneira particular, as enormes mochilas que carregavam nas costas. Ao vê-los, arcados sob o peso dos grandes fardos marrons, cheios de coisas inúteis e sem valor, indagava-me se não seria melhor e bem mais cómodo para eles se levassem apenas um cartão de crédito para pagarem o pernoite nos hotéis cinco estrelas ou as caras refeições que fizessem...
Aqueles miseráveis me remetiam ao passado e faziam pensar na Cleuza, uma conhecida mendiga de voz rouca que ainda vivia sua sobra de vida na Vila e tinha sido prostituta na juventude. Os mais antigos diziam que a Cleuza, no seu tempo de moça, fora uma mulher linda. Mas eu via seu rosto enrugado, olhava seus dentes cariados e duvidava da sua antiga beleza. Foi, talvez, em virtude de algum desencanto pessoal ou por algum particularíssimo motivo, que, num dia qualquer do seu passado, a Cleuza fizera uma estranha promessa para São João, o santo maior da sua devoção. Prometera ao santo que, durante todos os anos da sua vida futura e sem falta, comeria, sob o mastro de São João, uma lata inteira de Marmelada Colombo acompanhada de um queijo-minas fresquinho. O mastro, todo mundo conhece, é aquele bem alto em que o santo cacheado aparece numa bandeira segurando um carneirinho com cara de bebê chorão.
Naquele tempo eu era, como ainda não deixei de ser, um menino pobre e filho de pobre. Estava careca de saber que o Juca, meu pai, jamais teria dinheiro para me comprar uma lata de Marmelada Colombo -nem no presente nem no futuro-, e achava que a Cleuza tinha sido muito sábia ao fazer a tal promessa. Afinal, o único risco que ela corria a cada promessa fielmente cumprida, seria o de sofrer uma leve disenteria e nada mais. Quando a malandra passava pela porta da minha casa pedindo as suas esmolas, eu ficava pensando na sua promessa esperta e no conteúdo delicioso da lata verde e quadrada da Marmelada Colombo que ela compraria para saborear sozinha. Eu tinha inveja desse particular da Cleuza. Eu achava que a promessa dela era muito fácil, muito gostosa de se cumprir. Já tinha até decidido uma coisa: Se um dia eu precisasse fazer uma promessa para São João, uma coisa já estava bem certa na minha cabeça: faria uma promessa igualzinha à da Cleuza e comeria centenas de latas de marmelada Colombo...


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