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cronicas-->Oitão patinado -- 20/02/2007 - 07:37 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Oitão patinado



Encanto-me com os oitões esquecidos das velhas casas de Taubaté. Ninguém, exceto esse forasteiro que caiu de pára-quedas e ama essa cidade olha para eles. Ando pelas ruas e paro de repente. Uma água-furtada secular patinada pelo tempo me hipnotiza e fico a contemplá-la. Fotografo-a com os olhos e me pergunto: quem será que a construiu? Quem foi o pedreiro que segurou aqueles tijolos hoje gastos pela chuva e cinzelados pelo tempo? Onde estão os artistas que rebocaram em parte aqueles beirais? Quanta água de chuva já escorreu por ali? E as janelas de madeira escura que se abrem naqueles oitões, agora quem as abrirá? Quem foram os meninos que um dia dormiram ali e não dormem mais? Aonde foram as famílias que viveram ali? Quem plantou as bromélias e as samambaias ultraverdes e teimosas que crescem nos velhos beirais?
Essas paredes fronteiriças, de lado externo perdido e inútil, são descuidadas de propósito, por encomenda. Não receberam a proteção do reboco, subiram em tijolos fortes apenas para sustentarem a cumeeira pesada de vigotas. Logo, breve mesmo, o vizinho construirá uma casa e as esconderá, ninguém precisará vê-las. Não carecem de acabamento.
Engano total, puro engano! Eu as vejo desnudas e lhes cobro a beleza que não têm. Quando as imagino revestidas de massa fina, alisadas e pintadas, posso ver o quanto ficariam modernas, mas artificiais e desinteressantes. Olho para elas e sinto que as amo exatamente por que são assim, velhas e acinzentadas. A pátina esverdeada e cinzenta do tempo, o musgo que as recobre é o rio onde navego para o passado. Até quando permanecerão ali sem se cansar, sustentando o peso dos antigos telhados? Sinceramente, não quero morrer e saber que essas maravilhas velhas me sobreviveram e continuaram firmes, arrogantes nos seus lugares. Tenho ciúme desses oitões, quero levar todos comigo, com sua prenhez de tempo, de chuva e de vento. Eu vivo neles, morro neles.
Ao menos a sua visão de paz eterna eu quero levar comigo. Oitão patinado de tempo, telhas vãs desabando, retrato de Taubaté, até um dia... Adeus.

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