Parece que,lá fora, o mundo parou. No topo das árvores, nas nuvens que fogem espavoridas, no triste grasnar de um pássaro oculto nas touceiras, parece que tudo está em animação suspensa. O olhar de quem vê o início não pode pressupor o começo do fim.
Parece que parou o mundo, meus ossos estalam de dor, a dor do medo e do frio, a dor de se saber estranho nesta hora de abandono.
Parece que parou, parou de chover e cai o frio sepulcral das vertentes das montanhas, que atravessa planícies ásperas antes de entrar em nossas salas, em nossas camas, em nossas almas.
Parou o movimento caótico das folhas que estiolam e se soltam dos galhos ressequidos das antes majestosas fontes de sombra. Parou o triste piado ouvido há pouco, tudo se congela num bafio gelado; parece que parou todo o mundo.
Tudo adormece num lento alvoroço de vertigem oposta, de preguiça e sonolência forçadas. Tudo se nutre do cinzento e do imperturbável sossego. Tudo cai na noite atroz.
Parece que parou, parou cedo o mundo todo, quedou pasmo o indivíduo no trànsito, parou a nuvem em fotograma coagulado, parou o sol numa chama fria e deserta. Veio o Vento, colheu o que sobrara, nada mais restou.
O olhar de quem vê o início não pode pressupor o começo do fim.