Enfiou as mãos nos bolsos e saiu assobiando, leve e solto, como se diz por aí, depois de ter dito duras verdades ao falso amigo, que dele se aproximara somente para especular, xeretar a vida dele, saber o que estava fazendo, como se fosse um espião, querendo extrair os seus pensamentos.
Nem se preocupou em saber como ficara o tal sujeito, com os olhos incrédulos, a cabeça cheia de minhocas, por não esperar aquela reação tão vilenta, logo dele, um cara tão pacato, tão sereno, tão manso, embora ouvisse dizer que boi manso também arremete.
Mas, ele merecera aquele sabão, pois explorara a sua confiança e ingenuidade, puxando conversa, colhendo verdes, para depois divulgar o que deveria ficar escondido debaixo de sete chaves.
Quem o visse, naquela hora, despreocupado e feliz, nem de leve poderia adivinhar o motivo de tanta euforia:
Passara uma descompostura no cínico do gajo, um pilantra, um aproveitador que se passara por amigo.
E, pensando na reação das pessoas ao ve-lo tão alegre, assobiou ainda mais alto e, de tão contente, parecia levitar.