Eu morro de medo da hora da morte. Não da morte em si, com quem, afinal, terei uma eternidade para me acostumar, mas, do momento. Eu ia falar de eutanásia, mas acho que é um assunto muito sério, é melhor não me meter.
...Morro de pavor da hora da morte.
Eu preciso dizer que, não, não, eu não quero, não vou falar de eutanásia. É tabu! E não vou dizer que não fico a matutar nos porquês, pensando nos porquês, por que é tabu? Por quê? Acho que é por causa da religião, de Deus. Somente Deus teria o poder de abreviar nossa vida. A maioria das pessoas acha que a morte é uma passagem para uma outra vida. Talvez seja mesmo. Mas, se for por isso, talvez a vida seja uma prisão. uma espécie de prisão. Você vive a sua vida, morre, e aí nasce de novo, vive, e morre, e nasce de novo e vive e fica nesse movimento circular (ou helicoidal?) no tempo, até conseguir escapar, e atingir a perfeição, como alguns iluminados conseguiram. Para onde eles foram? E, se a vida é uma prisão, isso quer dizer que vou ter de morrer várias vezes, no que faz sentido falar de eutanásia. Mas, não. não, não, não. Não vamos falar sobre isso.
...Morro de pavor da hora da morte.
Não quero morrer de forma violenta. Aliás, espero que, se isso for correto, se, como várias religiões apregoam, vivem-se várias vidas, espero que brevemente, numa vida o mais próxima possível desta que eu vivo, não exista mais a palavra violência no vocabulário das minhas vidas futuras. Vou fazer tudo por isto. Assim, espero livrar a hora da minha morte deste tipo de coisa. Tudo isso me leva a pensar em eutanásia. Não, não quero falar sobre isso.
...Morro de pavor da hora da morte.
Longe de mim querer causar mal-estar nos meus poucos leitores. Sei que o assunto é delicado e eu não queria falar sobre isso. Mas, meus dedos se recusam a parar, fazer o que? Se alguém se incomodar, que não leia a seguir. Certa vez, acompanhei o passamento da tia de uma amiga minha. Essa pobre anciã, muito rica, sofreu um derrame cerebral. Ficou prostrada na cama. Sua perna direita necrosou. Os médicos amputaram a perna. Logo a seguir, ocorreu o mesmo com sua outra perna. Depois, um braço, e a velha se recusava a morrer. Fiquei bastante penalizado ao ver aquela senhora, na hora de sua morte, sendo privada de seus membros, que ela nunca mais iria usar. Devido ao derrame, ela não podia mais manifestar sua vontade. Será que era aquilo que ela queria?
...Morro de pavor da hora da morte.
Por quê os médicos não podem nos ajudar a morrer em paz? Sem dor? Eu não quero morrer de pavor!
p.s. este texto era para ter parado aí, mas é que, depois de ter escrito isso tudo, aconteceu uma grande briga na minha família. O motivo, religião. O estopim, eutanásia. Bem que eu não deveria ter falado sobre isso...