A imprensa estampa em manchete: "pênis perdido é encontrado por crianças na Ceilànidia". A princípio, o inusitado parece trágico na história do misterioso órgão furibunda abandonado numa calçada daquela Satélite, não tivesse uma certa comicidade. Antes de ir ao cómico (tudo tem seu lado risível, engraçado), um aviso a quem entusiasmado com o achado, imagina se aproveitar. É que a polícia, operosa, não brinca em serviço, guardou o `pedaço´ antes que o devorassem.
Os comentários espalharam-se rapidamente, em bares, restaurantes e repartições públicas. A cidade respira pênis. Chegando mesmo ao Planalto, com euforia total na Ala Assanhada do Palácio, onde assumidos e enrustidos balançam nas tamancas: "Nossa! Mas que desperdício?!". O presidente, em sua postura passiva, nada manifesta sobre o pênis da Ceilàndia. Convicto, um dos assessores decreta: "Se foi jogado fora, meu bem, é porque era inútil!", gira no calcanhar, radiante. Dona Ruth Cardoroso é que não se conforma: "Pênis desperdiçado na rua e eu na saudade?", lamenta.
Os moradores do local onde o órgão sexual foi abandonado - ainda sujo, sabe-se lá de que? - não sabem explicar como ele foi parar ali. As especulações divergem: "Isso pode ter sido um marido traído que pegou a mulher no flagra e castrou o amante", arrisca um dos curiosos do pênis abandonado. Medindo em torno de 10 cm, o órgão decepado lembra o caso acontecido nos EUA, em que John Wayne Bobbitt, após briga conjugal teve o pênis decepado por sua mulher, Lorena Bobbitt.
Em São Paulo, em 95, o evangélico Edson Passos, chega ao extremo da fé. Para livrar-se das tentações da carne, foi ao pastor confessar: "Ando com uns maus pensamentos. Não posso ver mulher que...", confessa. O pastor, sem avaliar até aonde pode chegar uma mente confusa, recorre à Bíblia para salvar sua ovelha: "Se um mal te aflige, corta-o pela raiz", recomenda. Seguindo ao pé da letra, o sagrado mandamento, o pobre Edison Passos, não esperou, decepou o próprio pênis. Independente do que levara o evangélico paulistano a extremado gesto de conversão, não sirva de exemplo a quem devoto da castidade, queira demonstrar sua fé pelos genitais. Porque, enquanto você decide o que fazer com seu peru, que não levanta mais o pescoço, o pênis da Ceilàndia continua despertando a libido de muita gente na Esplanada.
Roberto Carvalho, Jornalistas e Escritor
Tel: 322-0882 e 328-6664
*Membro da Associação Nacional de Escritores (ANE)
União brasileira de Escritores (UBE-PI), Aresc
Sindicato dos Escritores do Distrito Federal (SEDF).