Encontrei uns amigos bebendo em um barzinho badalado por aí. Por sorte tinha uma vaga perto da porta, apenas 3 quadras de distància. Mas a mesma sorte não se repetiu quando entrei no bar, abrindo caminho entre as mesas entupidas de garotas ao celular e garçons malabaristas, equilibrando chopes sobre as bandejas. Mal cheguei ao meu destino já pude ouvir a frase irónica: "- puxa uma cadeira aí!" .
Claro, e porque não. Seria uma frase óbvia, não fossem os 10 minutos que passei em pé até poder chegar a uma mesa com garotas e perguntar sutilmente - como se fosse possível, com todos aqueles risos e conversas altas : "Tem alguém usando a cadeira?". Pronto. Foi a pior frase que poderia ter dito.
Um silêncio baixou sobre a mesa. As garotas se entreolhavam, olhavam para mim - que à essa altura já havia sacado o meu melhor sorriso "fresh" - e olhavam para a cadeira à frente delas, como um jovem monge olha a figura iluminada do Buda. Mas a reverência à quela santidade não durou mais do que dois minutos, até que uma delas disse: "- tem, tem gente usando sim, não está vendo?"
Sim, eu via. Via um amontoado de bolsas, isso sim. Grandes, de couro, com cortes retos, escuras. Ou então daquele bendito tom de caramelo que infestou o inverno passado. Outras ainda usavam um estilo mais "Fashion" , com flores, transparências, bolhas de ar, enfim, tudo o que se pode imaginar.
Mas o meu questionamento maior não foi sobre o formato dessas bolsas, mas sim do seu valor para a mulher.
Sabe-se desde há muito tempo, que as mulheres são campeãs em "guardar coisinhas". Quem nunca teve uma tia ou avó que lavava e guardava o pote de margarina, porque poderia um dia precisar? Guarda-se de tudo.
Existem mulheres que levam do restaurante , desde guardanapos e palitos de dente , até canetas de garçons. E não é por hobbie, como se diz dos homens que levam cinzeiros de bar e toalhas de hotel. "É porque posso precisar" , justificam-se as próprias mulheres. "Vai que de repente eu derrubo água na minha roupa, vou precisar de um guardanapo? E se eu como alguma coisa e preciso de um palito de dente? E se eu pego uma gripe e preciso assoar o nariz? E se eu encontro o Brad Pitt e preciso anotar o telefone dele? "
Para tudo tem-se uma desculpa. E com isso a bolsa da mulher vai se tornando seu refúgio, seu bem mais precioso, a fonte de resolução de todos os problemas. Que dia é hoje? Pergunta se alguém tem um calendário na bolsa. Dor de cabeça? Vê se alguém tem aspirina, novalgina ou AAS na bolsa. Precisa de um batom, sombra, esmalte, acetona, alicate, tesourinha, lixa de unha, cotonete, camisinha, desodorante, perfume, escova de dentes, bala, chiclete, pente, brinco, pulseira, colar, celular...? Vê se tem na bolsa.
Não há limites para a bolsa de uma mulher prevenida. E é isso as tornam amigas inseparáveis.
Nas danceterias, sempre um martírio. São tantas as mulheres na fila do guarda-volumes, que chego a pensar que cada uma tem pelo menos umas 3 bolsas para guardar. Aí acontece sempre aquela situação chata: a melhor musica que poderia tocar na noite, toca bem na hora em que você está guardando sua bolsa, e a mocinha não tem a menor pressa para te entregar o cartão.
É. Bolsa de mulher é algo que daria para falar durante páginas e páginas, mas foi apenas o tema da discussão daquele grupo de amigos naquele barzinho que falava no começo. O fim da história?
Fiquei sim, em pé, por cerca de meia hora, quando desisti e resolvi ir para casa.
Ao chegar percebi que havia esquecido o celular e a carteira em cima da mesa, enquanto saia correndo daquele tumulto. Resolvi ligar para ver se alguém atendia. No final das contas, atendeu uma tal de Vània, que tinha saído com um dos amigos meus. Ela viu o celular e a carteira esquecidos e resolveu guardar na bolsa até achar o dono.
No final das contas, perdi a noite, as garotas e ainda fiquei devendo favor àquela que me tirou o lugar no bar.