A crónica
Os principais jornais em circulação no país mancheteiam violência e roubo. Notícias alvíssaras são minoria, até porque o que mais vende um jornal é sua manchete bombástica. Poesia não vende nem livro, quanto mais jornais - esses velhos casulos das cronicas efêmeras, notícias do instantàneo, avisos que morrem no dia seguinte, quando o papel impresso já for lixo.
O gênero literário crónica, que alguns dizem ter conseguido corpo e alma com os cronistas brasileiros, tem se firmado a cada ano como um gênero ficador. Assim, como diziam outros, que o romance, enquanto gênero literário, agonizava em seus últimos fólegos de existência - erram os que depositam na crónica apenas os créditos morredores, a fumaça da efemeridade. Quando bem feita, rearrumada na página, agora, do livro, o gênero se absolutiza e torna-se imorredor. O país possui cronistas apreciáveis. É uma pena que os maiores e melhores tenham achado suas portas mais largas nos grandes jornais do sul do país. Por cá, agoniza meia dúzia de patriotas literatos que não mede esforços para alimentar esse gênero, além de promissor, janela por onde, podem ser mostrados a cor e o som da poesia dos outros gêneros literários.
A crónica fala dos demais gêneros literários, dando-lhes o brilho que seu autor conseguiu tecer e pincelar no papel que leva o discurso escrito. Cronos de tempo e que no tempo finca-se fidalga e altaneira. Brincando ou falando sério ao informar, surge, e lida, excitando seus admiradores a, em assim guardando-as, produzirem as famosas antologias por muitos já tão conhecidas.
Escrevemo-la do lado de cá dos bastidores dos jornais e dos livros. Seus destinos são sombreados. Umas morrerão lidas, outras nascerão lidas, tantas delas nem serão vistas dum lado ou do outro. Cronifica-se, assim, o maior pecado literário, o de não apreciá-las.
Aprecio esse gênero complexo e tão fortemente frágil - se posso pensá-la ou dizê-la como aqui - , que se avulta e imortaliza quando nasce grande como sua sobrevivência histórica.
Aos milhões são elas publicadas no dia-a-dia jornalístico. Muitas delas nem portas abertas acharão: morrerão antes de nascer. Como filhas legítimas da Literatura, hão de esperar todas elas, publicamente respeitadas, pelo único e natural caminho: a publicação.
Esta que fiz e vos enderecei, caros leitores, batizei-a simplismente com o nome do gênero. Não sei para onde irá, o que dela dirão ou farão. Ei-la, diferentemente de tantas outras que tenho feito e publicado, Já que se faz meta-protesto, meta-alegria, será que se faz meta-narrativa? Sei que a fiz: o restante acontecerá depois de lida por olhos os mais diversos que ela encontrar nos caminhos dos críticos leitores. Ou eles a encontrarão? Haverá um caminho entre os dois pólos e apenas uma verdade, a que decidirá se morrerá silente ou sobreviverá no burburinho das avenidas literárias. |