Interessava-me vivamente pela natureza.
Muitas foram as vezes em que passei absorto ante o multicolorido das borboletas no chão úmido, revirando pensamentos de admiração pelas fragilidades que delas intuía e nos porquês de quedarem mansamente agrupadas, como se bebessem na terra um néctar desconhecido.
Pegava algumas, e após minucioso exame, soltava-as para acompanhar seu vóo aleatório por entre a vegetação verdejante; no ar um cheiro de terra molhada lembrava que era tempo de chuvas, e com elas antevia, por intuição, a eclosão de ovos ocultos de milhares de insetos, outrora enterrados por meses na areia fofa, a voejar até que caíssem presas de um pássaro e tornassem alimento de ninhos, no eterno e necessário ciclo da vida.
Cigarras também eram-me motivo de prazer, as quais tomava por entre os dedos para inspecionar com aguda curiosidade, em busca de um instrumento de cordas das quais porventura retiravam os sons agudos com que enchiam a minha infància de um bucolismo hoje em mim ausente.
Quantos pássaros de plumagens vistosas e coloridas povoaram meu olhos de infante; outros de aptidão canora enchiam-me os ouvidos com seus trinados melódicos e como desejava tomá-los em minhas mãos, e era então com cobiça que trançava arapucas de galho secos para em seguida perder a paciência da tocaia, pois coisa que sempre tive por muita foi a tal impaciência.
As escolas que frequentei pouco responderam minhas curiosidades e indagações infantis.
Meu mundo de prazer naquelas quatro paredes chamada sala de aula não existia, e se houvesse menção sobre algo do universo extra-muro escolar, era apenas para mitificá-los sob o manto da ciência distante e estranha aos meus sentidos.
Não me sentia atraído pela crueza e frieza com que as letras e as disciplinas eram repassadas; apenas sentia o tempo transcorrer morosamente, enquanto um mundaréu de cores e movimentos fervilhavam lá fora...