Uma curiosa questão foi proposta por um site: Se você estivesse a ponto de, junto com o planeta todo, ser atingido por um enorme asteróide e morrer em sessenta minutos, o que você faria?
O que eu faria em sessenta minutos? Cada minuto tem sessenta segundos, são sessenta minutos vezes sessenta segundos, três mil e seiscentos segundos! O que eu faria em três mil e seiscentos segundos? Einstein diz que, próximos à velocidade da luz, o tempo se concentra, isto é, do ponto de vista de quem viaja nada acontece mas relativamente ao tempo de fora, o tempo dentro da nave que se move á velocidade da luz é zero, sim, zero! Portanto, a velocidades próximas à da luz, meu tempo seria infinito, três mil e seiscentos segundos seria uma enormidade de tempo. Como meu pensamento (dizem) é mais rápido que a velocidade da luz, passaria os três mil e seiscentos segundos pensando, o que retardaria consideravelmente o fatídico impacto. Nos segundos que levariam horas, dias, séculos talvez, eu construiria minha arca de Noé cósmica e levaria minhas mais belas musas em minha companhia, as Vanessas todas que conhecí, Telmas, Luanas, Márcias, Karinas, Luizas e talvez as Carmens e as Ivanas e Jamilles e Robertas. Com uma coleção destas não há Noé que resista, francamente! Com elas povoaria o Universo de belezas raras e inteligências como a minha, óbvio!
O que eu faria em sessenta minutos? Olharia o céu e veria a nuvem luminosa se aproximando célere, mas meus pensamentos se voltariam à estrela mais próxima, Alpha-Centauri, que fica somente a quatro anos-luz de distància de nosso agora agonizante planeta. Quem não almejaria uma estrela nesta última hora? Eu me elevaria acima dos montes fumegantes de destroços retorcidos, eu me elevaria acima das metrópoles fumacentas e das secas inauditas que nos assolavam há pouco, eu daria uma última olhada ao globo pálido a anêmico agora(azul outrora) e migraria num átimo de um segundo tempo, uma segunda vida povoada de conhecimento e amores nada vãos...
Eu beijaria o rosto de minha velha mãe, tão crispado por tempos tão difíceis e ela seria minha convidada eterna em meu refúgio sideral; minha casa relativística teria portas abertas-se é que isto é possível- e ela poderia entrar sem sequer se anunciar para fazer seus maravilhosos pratos e cuidar de mim como ninguém nunca soube e eu poderia finalmente agradecer o que ela fêz por mim e por todos os que conheço em torno dela, fazendo-a pintar as telas em óleo atóxico e firmando os olhos nas gemas estelares que surgiriam bem diante de seus olhos cansados de tanta lida.
Pensaria na vida que levo e não levaria nem um segundo para concluir o que já tenho como verdade, que nada vale a pena se a alma é ínfima e pequena. Seria num minuto só que constataria que nada vale mais do que aquilo que mais temos dentro de nós e que negamos a todo custo: Nós mesmos. Nesta hora, vendo a nuvem se tornar uma mancha acinzentada e ameaçadora, já roçando os limites da atmosfera e antevendo os uivos horríveis da dilaceração se aproximando, eu pegaria na mão de quem estivesse por perto e diria: Isto passa! Num segundo eu passaria a outra esfera e num arremedo de primavera, colheria as flores de toda uma existência que brotou e valorizaria o que ainda poderia ter sido e não foi!
Agradeceria, já sentindo o odor acre do atrito da montanha com o ar do planeta moribundo; Nada me faria morrer mais que saber que nada fui no mundo, preferia morrer mil vezes a isso, mas uma explosão me libertaria e eis-me aqui, sentado, na viagem que é mais rápida que uma quimera, no rumo da cintilante estrela de outra era.