O hortifrutigranjeiro Praxedes é visto pelos seus amigos e conhecidos como um homem muito crédulo.
Ele é uma dessas pessoas que passa parte de seu tempo absorta em pensamentos; ora ele é apanhado confabulando com as paredes do seu quarto, ora é pego conversando ou discutindo com os seus botões. Ele é um meditabundo na acepção real da palavra.
Não obstante a sua fé incontestável e o seu apego infinito à s divindades por ele cultuadas, ele tem alguns recalques e medos que o tornam um homem muito afeito ao acometimento de constantes achaques. Muitos desses achaques são, por vezes, psicológicos e o têm acompanhado desde a sua mais tenra idade.
Na maioria das vezes, suas atitudes hipocondríacas e seus sintomas de uma apatia cada vez mais frequente, tendem a infestar até a firmeza da sua fé.
Na verdade, ninguém sabe ao certo o que o fez se tornar um homem tão morrinhento.
Dizem que foram os reflexos psicóticos decorrentes de algumas das estórias contadas pelo seu avó que, entre outras coisas, atribuíam aos contos dos quatro cantos e a alguns dos mitos mais estrambóticos de sua região, todas as situações malfadadas vividas pelo ser humano.
Apesar da sua crença imensurável nas suas inúmeras divindades, ele também acredita na sua intuição, adquirindo, com o passar dos anos, o hábito da automedicação.
A sua despensa mais parece uma farmácia de cidade pequena de um interior bem longínquo. Ali tem de tudo para quem necessita de um socorro imediato. Tem desde um comprimido para combater a um desarranjo intestinal, a um antiácido daqueles recomendados por proprietários de restaurantes, no caso da ingestão de comida ou de bebida em demasia.
Nas suas horas de desassossego e de descontrole emocional, ele bebe de tudo; mas nada disso tem o poder de curar os seus achaques, com tanta eficácia, como aquelas mezinhas e placebos preparados pela sua benzedeira Mãe Sinhá.