O dia amanheceu, naqueles idos de 1971. Um médico todo de branco,entrou com duas enfermeiras também de branco.
- Tirem as ataduras, disse ele às auxiliares.
A cena me fez lembrar a ressurreição de Lázaro. Se esse homem se levantar e sair andando, eu corro. Pensei. O paciente foi finalmente desamarrado e as tiras lançadas numa lixeira próxima. Levaram o doente. Olhei aquele material. Posso fazer uma corda com ele. Comecei a trabalhar. Meu companheiro não conteve a curiosidade. "Quero saber o que você vai fazer com isso" Respondi simplesmente: Aguarde! Feita a corda, peguei uma cédula de cinco cruzeiros, escrevi um bilhetinho, amarrei tudo na corda e soltei pela janela do hospital. No bilhetinho dizia, "por favor, compre-me uma garrafa de guaraná". Feito isso, acenei a um transeunte que passava na calçada. Em poucos minutos, uma garrafa de guaraná e o troco estavam amarados na cordinha. Foi só puxar! Meu companheiro riu. "Você é cheio de artimanhas". Tomamos o guará, lavei a garrafa na pia, amarrei-a novamente na corda com uma cédula de dez e soltei pela janela. Um viandante curioso aproximou-se. Não é comum uma garrafa pendurada por uma corda numa janela de hospital. Amigo, por favor, compre-me café, jornal e um maço de Hollywood. Ponha o café na garrafa e amarre tudo na cordinha. O homem saiu levando a garrafa vazia e o dinheiro. Demorou bastante, mas voltou trazendo a encomenda e a justificativa da demora. "Tive que andar três quarteirões, para comprar tudo que o senhor pediu". "Muito obrigado", disse-lhe.
Depois que apliquei esse expediente, não nos faltou mais revista, jornal, refrigerante, café e cigarros.