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cronicas-->Alma Jovem -- 10/01/2008 - 18:33 (Erika Mayrink Vullu) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E o silêncio finalmente se fez. Meus olhos, ainda não tão fatigados como os de Drummond, observam a luz que entra pelas janelas da sala. Estão todos assentados. É dia de prova, daí o silêncio, artigo precioso e muitas vezes necessário na bagagem docente. Compenetrados, alguns pensam; outros, inertes, viajam. São alunos, como o leitor já deduziu. Jovens alunos.
Imensos brincos de argolas, cabelos escorregadios e blush colorindo a face jovem se misturam a piercings no nariz, anéis de caveirinha e bonés escondendo cabelos revoltos e despenteados. Há também tênis e chinelos de dedo tropeçando em coturnos e sandálias rasteirinhas. Em meio a toda essa diversidade tribal, lá está ele, o ignóbil uniforme brigando sofregamente por um lugar ao sol.
O tempo caminha: lesto para os pensantes; lento para os viajantes. Cabelos compridos se enrolam num coque improvisado; bonés se contorcem em movimentos pra direita e esquerda, frente e trás; pulseiras furam o silêncio com seu tilintar agudo; pernas se dobram em posição de lótus; pescoços inquietos fazem malabarismos suspeitos; Ivete abala e lembra a todos que celular ligado na hora de prova não vale. Risos; desculpas; cara feia; bronca; apreensão do subversivo.
A hora anda: ligeira para os aflitos; devagar para os tranquilos. O primeiro se levanta. Olhos preocupados vagam pela sala. Um viajante (ou seria um pensante?) entrega a prova. O tique-taque acelera. Pernas cruzam pra lá e pra cá. Borrachas se descabelam. Lapiseiras se esfacelam. Canetas com pompom rosa-choque se desesperam. Quanto tempo falta? Anéis voltam para os dedos. Coques são desfeitos. Fichários de gatinhos e moranguinhos se fecham. O segundo se vai. Porta que se abre. Porta que se fecha. Gloss e espelhos. Celulares no bolso da bermuda e na bolsa multicolorida e na mochila da moda. Beijinhos estalam pelo ar. Faltam 10 minutos.
Agora o silêncio me perturba. Sala vazia. Sem luz. Sem vibração. Argolas, piercings, pulseiras, anéis e bonés se perderam pelos corredores da vida. Caminho para a porta segurando o envelope de provas. Olho para trás e meus olhos se incomodam, por um momento, com a ausência de cor. Depois se abrem e me dizem que amanhã não é dia de prova, é dia de aula. Dia em que, mais uma vez, pensantes e viajantes me rejuvenescerão a alma.
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