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cronicas-->Rodrigueana -- 14/01/2008 - 18:59 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A pinta faceira no lábio carnudo era sua marca. Quem a conheceu sabe de quem estou falando. A morena, matreira, olhava de lado e pronto, mais um para sua coleção de trouxas apaixonados. Comigo não foi diferente, eu a encontrei comprando cachorro-quente numa rua em frente ao hospital onde eu dava plantão. A moça, de olhos compridos, deu um olhar de derreter estátua de cobre, daquelas grandes que costumam pichar no centro desta cidade cheia de poleiros e pulgueiros. Seu olhar, ah, que olhar de morena que sabe o que faz, que olhar que só faltava tocar você nas partes íntimas. Morena fogosa, matreira e malaca. Depois, olhando as salsichas... Óbvio que nenhum mortal é capaz de escapar deste jogo de sedução, ainda mais por uma rainha de bateria em plena época de liberdades de costumes e assim foi, uma conversa vai e o cachorro-quente deglutido, rapidamente o trato do encontro escuso e a saída às escuras. Isso foi no dia e nos que se seguiram ela desfiou a história de sua vida, desfile pela Vai vai, destaque na avenida ( com fotos e tudo) e o trouxa acreditando. Uma espécie de Polliana, me diziam os amigos mais chegados, todos de olho no derriére da maior morena que eles haviam conhecido, neste mundo estreito dos hospitais e dos plantões, das poucas e raras vivências no cerco à vida que temos nós todos desta área. Lá fomos, eu e ela e aconteceu tudo o que podem imaginar, vou deixar para vocês o que quiserem.

É mole? Como bebia a danada, enxugava um bom par de copos antes de se deitar comigo, deixava claro que precisava estar ligada, turbinada, ah, danada. E eu por pouco não me perco... Sempre do bom e do melhor, abertura, prato principal, sobremesa e aluguel de sapatos e roupinhas caras. Vai dar problema, diziam as línguas salivantes de invejosos amigos que queriam estar em meu lugar, justo eu, com um destaque da escola dos rivais, eu, justo eu! Mas sim, era eu mesmo, podem acreditar.

De vez em quando era chegada numa surra, pedia para que eu batesse, comecei de leve, a coisa evoluiu e no final, quando soube de suas sacanagens, batia mesmo pra valer, ora. Mulher que apanha sabe porque levou surra e se não sabe, vai ficar sabendo logo.

Ela delirava, ria de meu ciúme, o camarada que eu vira perto dela era amigo, ora, se eu podia sair com as colegas ela não podia? Liberada até demais, eu ficava dias sem falar e de repente tocava o telefone maldito em minha fortaleza, ah, era ela...

--Vamos sair, querido?

Um cachorro salivaria menos. Ela sabia me dominar, mas comecei a dar falta de alguns trocos, a morena negava mas meio que de lado me olhava de desprezo..

--E eu vou precisar de seus trocados? Se liga, mané!

Como meu nome nunca foi Mané, lhe dava uma bofetada e ela mandava o salto do sapato, de modo que mais de uma vez eu chegava ferido...

--Que foi isto? Mais uma batalha?

Bom, para encurtar a história, do jeito que a conheci eu me despedi, sabendo que alegria de pobre dura pouco. Os amigos todos aprovando e de olho no próximo da fila, eu saí do foco de atenção e só depois que ví a bobagem de se ligar a gente assim. Meses de dor e urologista; quando se é jovem, nada se aprende.

Mas que ela era uma vagabunda, ah, isso era!
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