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cronicas-->SINAIS DE CONCERTO -- 25/03/2008 - 15:18 (FAFÃO DE AZEVEDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia em que completava seus 34 anos de idade, Brasília despertou ao som do piano de Artur Moreira Lima. Eram seis e meia da manhã quando, junto com o sol, nasciam os primeiros acordes que o grande músico imprimia no teclado de seu piano, lá do alto do morrinho do Lago Sul, numa saudação de bom dia à cidade aniversariante.
Mais tarde todos comentavam nos bares e restaurantes:
- Eu vi o Arthur Moreira Lima tocar!!!
E, de fato, muitos foram ver, mas poucos ouviram. Não que houvesse alguma falha técnica nas aparelhagens de som, ao contrário, foi tudo muito bem planejado. Tinha até biruta para indicar a direção do vento. Faltou foi atenção da parte da platéia. Eis o que eu queria dizer: os "ouvintes", representantes da elite que reside no mais nobre bairro de nossa cidade, não se concentravam na música, preferiam andar prá lá e prá cá, cumprimentar seus vizinhos em breves bate-papos como quem diz: "reparem, eu vim ver o Arthur Moreira Lima tocar".
Ajudados pelo ronco dos carros oficiais da comitiva do Governador Roriz, que se retirou em pleno andamento do Carinhoso de Pixinguinha - talvez um pouco irritado por ter sido vaiado quando o apresentador anunciou sua presença ao microfone - esses "ouvintes" mal disfarçavam sua ansiedade para que tudo terminasse e fosse liberado o Café da Manhã ao Ar Livre oferecido pela empresa que patrocinava o evento, numa total desconsideração pelo artista e pêlos que se esforçavam para captar a melodia em meio àquele burburinho.
Apesar da minha indignação com o fato acima relatado, ontem arrisquei-me a ir ao Violão In Concert, do magistral Sebastião Tapajós, com a esperança de que, sendo em recinto fechado -auditório DESED do Banco do Brasil - a música predominasse aos tititis.
Mas parece que eu não dou sorte com isso. Estava tudo correndo muito bem, todos muito concentrados nos efeitos sonoros extraídos pelo instrumentista, quando a madame, que ocupava a poltrona situada exatamente atrás da minha, teceu o seguinte comentário, num cochicho plenamente audível:
- Não sei como ele consegue fazer isso com as mãos!!!
Foi o que bastou para que sua interlocutora também expressasse suas considerações sobre as técnicas do artista, começando assim um verdadeiro colóquio em surdina, só interrompido pelas palmas entre uma interpretação e outra.
Confesso que tive ímpetos de dar um berro exigindo silêncio, mas seria uma incoerência. Me liguei no violão e comecei a imaginar que antes das proezas manuais, que o Tapajós fazia para nos proporcionar aquele som maravilhoso, estava um raciocínio musical associado a um profundo sentimento artístico que também deviam ser elogiados.
Senti vontade de dizer às madames que as técnicas manuais eram conseguidas com muito estudo, horas e horas por dia de treinamento. Movimentações das mãos semelhantes aos sinais que os surdos-mudos utilizam para se comunicar, e que se elas tentassem, um dia poderiam ir a outro concerto e ficar o tempo todo conversando, sem incomodar os vizinhos, e ainda com a vantagem do concertista, fatalmente, no final do espetáculo, sair comentando:
- Como é que elas conseguem fazer isso com as mãos?!?!
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