Santa Rotina de Todos os dias, estes em que tudo é fugaz e veloz. Acorda-se a jato, depois uma rapidinha, banho breve quase a seco, um café mal engolido e a corrida ao batente, onde tudo se faz em flashes rápidos, em pacotes de informação instantàneos...
Precisamos pensar nisto tudo. Se não a saborearmos, como saberemos de que é feita a maçã?
Santa Rotina, essa que nunca me abandona, nem em pensamento! Qual vento uivante, passa o avião próximo demais da cabeceira da pista, onde milhões de automóveis se enfileiram, numa procissão interminável de buzinas e um desperdício de bilhões para a economia estagnada nos tanques que se evaporam.
Todos em extensa correria: aparentam não acreditar que você passa lànguido, ao largo, olhando as formas que bruxuleiam na névoa de vapor de gasolina, como se lente espessa deformasse a visão ao longe. Já ouvi até de uma senhora respeitável, com sua sacolinha a estibordo, um sonoro:
--Vai trabalhar vagabundo!
Ninguém se vê nesta terra seca. Nordeste? É aqui. Caatinga de emoções, deserto do desejo e da paixão. Esta linda cidade cinzenta não passa de uma ilusão encaixotada pelos princípios do poder monetário que te faz comprar e te satisfaz com os objetos do desejo de consumo da porcariada com que se comprazem os seus viciados neófitos.
Vai trabalhar vagabundo. É o que dizem os olhares dos prisioneiros do consumo, dentro dos milhares de táxis engarrafados há horas, em marcha lenta (você passa pelo mesmo carro uma, duas, três vezes e ninguém sai a caminhar...). Santa Rotina de Todos os Dias. Precisamos desacelerar nossas consciências, deixar de pensar no momento de agora e cultivar nossas melhores lembranças, que é o que deveria nos mover, deveras.
Não digo viver no passado ou de glórias já findas. Digo cultivar o que de melhor fomos para saber o que melhor seremos. Não se trata de um olhar ressequido sobre o passado que queremos relegar a um segundo plano, como se maldito fosse. Não. Trata-se de mais que isto, pelo bem de todos nós.
Viva o sabor das cores do dia. Eu recomendo. Trabalharei sim, mas não porque a senhora quer. Vou porque preciso, mas não agora.