Ele: Os dedos dela escorregando pelo seu corpo, fez-lhe lembrar do tempo em que ainda sentia uma espécie de atração fatal pela esposa. Parecia-lhe que o tempo não havia passado e que suas rugas e mechas grisalhas nunca existiram. Sim, a mesma sensação de 25 anos atrás. O coração a bater descompensado, um suor gostoso, a adrenalina a mil por hora. Era óbvio que depois daquele toque, daqueles beijos mornos, ele nunca mais seria o mesmo.
De alguma maneira reencontrara sua amada esposa ou todo amor e atração antes perdidos nas fagulhas do tempo. Parecia ela . Sim! Não lhe importavam aqueles cabelos negros longos, corpo escultural ou a amante ter metade de sua idade. Aliás, ele não dava a mínima importància para o seu sorriso. Apenas vivia intensamente o que fora perdido há anos...
Ao acender um cigarro após o ato sexual, questionou-se sobre a data ou fato que fez sua Ana virar uma mulher morna, acomodada. Sim, essa seria a palavra certa. Ela se contentara em provar de seus carinhos apenas uma vez por semana. Depois, a cada quinze dias, um mês...perderam-se enfim. No tempo, no casamento. Suas camisolas sexys viraram robes de algodão. Caprichava-se somente em dias de ir a igreja. Nesses dias ela ficava bonita, radiante. Despertava-lhe tesão, mas era pecaminoso demais tentar fazer amor logo após a bendita missa.
Era-lhe mais fácil procurar uma amante e provar de suas fantasias.
Se ela soubesse, pensou ele, que o homem é um fraco diante dos caprichos de uma mulher. Que cabe a ela a busca de ferramentas para aprisionar para sempre seu marido. Ah, melhor que não saiba. Seria pavoroso depender de seus carinhos. Amor, para ele, transformara-se em rotina. Família e tédio.
Ela : ao ajoelhar-se nos bancos da Igreja, lembrou de Antonio, seu primeiro namorado. Naquela época, aos 14 anos, adorava ajoelhar-se para que ele olhasse com detalhes a curva de seus seios. Por isso a cada ida a missa, caprichava-se mais do que todos os dias da semana, para relembrar a sensação que lhe ficou marcada na alma.
Como poderia, uma mulher tão atraente e cheia de vida se transformar naquele poço de amargura? Sim. Aos 45 anos, e até poucos dias atrás, nunca havia atingido um orgasmo sequer. O marido nunca se preocupara com isso também. Será que ele nunca percebera seus fingidos gemidos?
Bem. Agora era tarde para lamentações. No resgate pela sua sexualidade ela cometera um ato "pecaminoso". Influenciada por uma amiga na mesma situação, procurou carinhos fora de casa. E na falta de coragem de entregar-se a outro homem, provou dos carinhos de uma outra mulher. Foi mais que divino. Mais que profano. O prazer lhe bateu a porta novamente. E em apenas um encontro, aquela outra fêmea, ao olhar em seus olhos, entendeu que aquela mulher nunca soubera nada sobre êxtase .Agora ele, o marido, já não representava mais nada para Ana. Apenas a base sólida para uma velhice decente. Apoio aos filhos, netos, noras, Natal em família...
Amor? Ah, coisa de adolescente.