Usina de Letras
Usina de Letras
44 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62823 )
Cartas ( 21344)
Contos (13289)
Cordel (10347)
Crônicas (22569)
Discursos (3245)
Ensaios - (10542)
Erótico (13586)
Frases (51217)
Humor (20118)
Infantil (5545)
Infanto Juvenil (4875)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1380)
Poesias (141100)
Redação (3342)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2440)
Textos Jurídicos (1965)
Textos Religiosos/Sermões (6301)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->O Encontro -- 08/10/2008 - 18:56 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na rua sombreada pela copa das árvores eu andava à espera dela; havíamos combinado ali o nosso encontro furtivo.

--Meus pais não podem saber!
--Claro...Eu entendo!

Eu dizia entender mas isto nunca ficou claro entre nós. Era uma área de nosso relacionamento que ainda não havíamos penetrado, a dissidência. De qualquer maneira, eu fumava um cigarro após o outro e visivelmente ansioso apertava as mãos suadas uma contra a outra. O coração parecia sair pela boca, tal o descompasso. Era assim sempre que combinávamos, eu e ela ansiosos e tensos, cada qual em sua área de penumbra. Eu estava assim nesta andança, no ritmo da tarde seca e quente quando notei um olhar sobre mim. Um senhor de cabelos brancos me fitava, sentado a um banco sob a maior das árvores copadas, que me parecia ser um enorme pau brasil mas que ele me esclareceu depois, era uma Sibipiruna com suas flores roxas ponteando seus ramos, numa chuva que tingia o asfalto de lilás e roxo. Sabiás cantavam pausadamente, alegrando a praça com os sons de sua bem-aventurança.

--Cansado de esperar. Não é?
--Sim...Sim!
--Mas ela vale a pena?
--O senhor não imagina como!

Ele deu uma risada contida, mas me olhou com aquele clássico olhar de quem fala:-- "esses moços, pobres moços..." e me convidou a sentar. Realmente, com o calor da tarde e a nervosa espera, tornara-se desconfortável seguir de pé, como uma chaminé, aguardando a chegada de minha musa.

--Você mora por aqui?
--Certamente que não!
--...Ao que eu devo supor, é claro, que ela também não mora.
--Preferimos assim.
--Devem ser amantes!

Com um olhar de estupefação, ergui meu corpo; seria tão evidente assim nossa situação, para ser apreendida por um desconhecido de cabelos brancos, sentado numa praça longínqua onde jamais nos tínhamos encontrado ou o meu comportamento transparecia tudo?

--O senhor é detetive?
--Não, meu caro. Sou velho e já passei por isto. Sei como se sente!
--Sabe?
--Sei porque até hoje espero a minha amante aqui nesta praça. Até hoje! Veja, espero tanto minha amada que até fixei residência ali (ele apontou vagamente as casas que ficavam perto da padaria de velhas telhas do outro lado da praça, perto do coreto). Ali, viu?
--Qual delas?
--A casa de telhado marrom claro.
--Ah sim!

Meu apreço por ele aumentara porém meu crédito por ele diminuía na mesma proporção. Ele dizia que sua amante fora bela, teria sido casada com um médico ilustre da região de Valinhos, ela teria uma fazenda produtora de vinhos e ela o abandonara para viver o resto dos dias com o marido, após a desfaçatez de usar sua juventude por duas décadas.

--Vinte anos! Vinte anos me entreguei a esta mulher! Vinte lindos anos, eu os dei a ela, como em bandeja de prata. Sabe o que recebi?
--O quê?
--Este anel junto com uma lacónica carta de adeus!

Ele exibia o anel dourado com uma pedra que ele dizia ser um rubi. Chacoalhava as mãos em gesto teatral, desenhava sua silhueta no ar e eu pude perceber como ela devia ter sido linda e importante para ele. Agora nada mais importava, ele dizia, porque o marido dela morrera e ela herdara de tudo. No entanto...

--Até hoje a espero. Sei o seu telefone, sei aonde mora com os filhos e netos,mas não ouso procurá-la. Passei muita necessidade por causa dela!

Seus olhos se encheram de lágrimas. Queimei a ponta de meus dedos com o último cigarro que fumara; contristado eu o ví pegar um lenço a assoar o nariz.

--Quer um conselho, meu filho?
--Quero...

Segui o seu conselho e deixei a praça sem olhar para trás; sob a sombra das árvores me sentia melhor do que nunca, ouvindo o som dos pássaros . Entrei no bar e pedí um drinque. Olhei para a praça e dali de onde estava, vi um moço chegando de semblante carregado, menino ainda, com um cigarro na mão direita. Ele olhava para os lados e deixava transparecer que estava nervoso, movendo-se de um lado a outro...O velho de cabelos brancos desaparecera e eu caminhei para assumir meu lugar na praça, sob os sabiás que cantavam deslumbrados com o sol que já se punha.

Nunca uma bebida desceu tão bem!
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 4Exibido 339 vezesFale com o autor