Arnaldo é um trabalhador comum que, como muita gente, não tem tempo para ir em casa almoçar: costuma frequentar essas pequenas lanchonetes/restaurantes, onde se servem refeições comerciais e pratos do dia. Muitos desses lugares têm um esquema mais ou menos fixo : comercial com bife, picadinho ou frango, ou o prato do dia, o qual segue mais ou menos o calendário abaixo :
PRATO DO DIA
2a. feira - Virado à Paulista
3a. feira Bife à rolê com purê e arroz
4a. feira Feijoada
5a. feira Macarrão com frango
6a. feira Filé de peixe com maionese
Sábado Feijoada
Pois bem.
É segunda-feira e Arnaldo já trabalhou metade do dia; quando vai ao restaurante, o preço do virado é muito pesado para o seu orçamento; ele vira e revira os bolsos e o dinheiro não dá para pagar o virado, nem o paulista nem qualquer outro que houvesse. O estómago vira e revira de fome, a cabeça, vira e revira de insatisfação.
Na terça-feira, o bife à role é ele mesmo, Arnaldo, enrolado e afogado nas contas a pagar, a própria batata, cozida no vapor do ónibus superlotado que toma para trabalhar, transtornada e transformada em um purê de dívidas.
Na quarta, nem pensar em comer feijoada, o prato mais caro da semana. Arnaldo já sabe que a feijoada é ele mesmo, uma mistura de "carne de segunda", que bem poderia subir um pouco na vida, como no caso do prato de origem humilde, que faz a festa dos brasileiros, mesmo nas "casas grandes" de hoje. Mas cadê a oportunidade?
Na quinta-feira, o macarrão com frango chama a atenção dos italianos por descendência ou por espírito, mas faltam-lhe as vitaminas necessárias a uma refeição equilibrada; além disso, o dinheiro é novamente insuficiente e ele se sente o próprio frango, frito na frigideira ou ensopado na panela dos problemas a resolver e do aluguel atrasado da casinha de fundos na periferia.
Na sexta, para completar, novamente não dispõe do dinheiro para comer o peixe; sente-se, então, um peixe fora d´água, quando compara o seu salário com o custo de vida e percebe que não pode e não deve comer nada, caso contrário o dinheiro não vai dar para a condução
de volta para casa. Além disso, pra quê comer maionese, se ele mesmo é o próprio legume picado?
No fim de semana, ele ainda vai fazer um bico em bairro mais central, a fim de ganhar uns trocados a mais. É longe de casa e ele novamente vai à lanchonete/restaurante; a essa altura, confunde-se e lê "lanchorante". Porque, além de ser semi-analfabeto, traz a cabeça pesada de cansaço e dificuldades.
Enfim, é sábado e de novo, o prato do dia é feijoada, porém não há dinheiro p´ra todo dia comer o prato do dia e ele então atravessa a rua e entra em uma pastelaria.
Melhor pedir um pastel e, se der, um caldo de cana, ou engolir o pastel a seco e seguir em frente, que atrás vem muito mais gente.