Fiquei sabendo através de Adrião Neto (Dicionário de Escritores Piauienses), que o professor Cid Teixeira, ainda peregrina na Terra, ou seja, não retirou seu passaporte para o céu reservado aos poetas que derramam pérolas preciosas nas comunidade dos humanos.
Eu conto a história que Cid descreveu, mas não escreveu. Conheci-o em 1978, quando cheguei solteiro em Caxias do Maranhão e me hospedei num hotel - já não me lembro mais o nome - mas como esquecer o restaurante do hotel? Panela de Ouro, uma vez que ouro simboliza o que é bom - e caro!
Inadvertidamente, confundi a diária - linguagem de hoteleiro que inclui apenas dormida e café da manhã. Foi um espanto, na hora de pagar a conta: foi-se toda minha remuneração de bancário, durante um mês de trabalho para pagar 15 dias de hospedagem, num hotel de luxo. Mas, esta é minha história, não é a de Cid. A história dele começa, quando ofendeu uma moça e pós nela uma barriga. Seu pai, um austero tabelião, impós-lhe a condição de casar-se para limpar o nome da família, de ambos os lados. Cid 18 anos, fugiu na calada da noite e veio esbarrar em Belo Horizonte.
O baixinho de cabeça chata e rara inteligência, logo conseguiu um emprego de vigia na construção civil. Aquele não era seu sonho. Na verdade, queria estudar e o fez. Aconteceu que, aboletava-se numa obra em construção, e à noite frequentava uma escola de segundo grau. Por ironia do destino, o prédio pegou fogo durante sua ausência e quando Cid chegou, o engenheiro e alguns burocratas da empreiteira já estavam no local.
- Senhor Cid, onde estava quando o incêndio começou?
- No colégio.
- O Senhor estuda?
- Sim!
- Pois passe amanhã no escritório da empresa!
No primeiro expediente, lá estava Cid para receber seu julgamento e, provavelmente, a condenação.
- Estamos rescindindo seu contrato de vigia... e assinando a carteira como funcionário do escritório.
- Ufa, que alívio! - pensou ele - achei que estava desempregado.
Finalmente, alguns anos depois o acadêmico de filosofia, torna-se professor de uma faculdade na capital dos Gerais. Um casamento mal-sucedido, entretanto, o leva de volta à terra natal. Foi aí que o conheci candidato a vereador em Caxias: "CID CONHECE A DOENÇA DA CID ADE" - Uma alusão ao Código Internacional de Doenças (CID).
Muitas cidades brasileiras continuam doentes, porque, lamentavelmente, um país que elege bode para vereador e ratos para os mais altos escalões da política nacional, não vota em filósofos, em sábios, nem intelectuais. Ruy Barbosa e Cid Teixeira de Abreu sabem disso.
Quando deixei o hotel Excelsior, Cid também o deixou e ainda moramos durante meses na pensão de Dona Zenaide, até o dia em que me casei com uma mineira, por procuração.Cid tomou todas as providências relativas à parte forense, afinal, Tavico seu irmão, tornou-se tabelião, depois que lhe morrera o pai.
Na esquina da Rua Direita, "seu" Artur saudava os fregueses, dizendo uma loa e participava do impugna - um jogo de palavras entre intelectuais que consistia em impugnar uma palavra, ou porque estava pronta ou porque não existia. A coisa era organizada: havia uma pilha de dicionários de diversos autores e papel semi-impresso com as regras do jogo e o timbre: "Recanto dos Poetas". Só valiam as palavras dicionarizadas. No final, saíamos dali com a cabeça cheia não apenas do etílico sorvido, mas também da sabedoria absorvida. Lá não se apostava dinheiro, apostava-se o saber.