Ele escutou o frescor da madrugada. Ela estava ao seu lado, respirando com movimentos suaves e elevando levemente o tórax em movimentos ritmados. Sua visão era magnífica: Pela alvíssima, macia ao seu contato, com o perfume característico das verdadeiras fêmeas e a graça das verdadeiras mulheres apaixonadas. Ele não podia desviar os olhos pois o sol colocava seus tingimentos nas paredes do quarto de sua casa onde já se ouviam os primeiros ruídos dos pequenos animais, despertos pela manhã esplendorosa. O que via, cheio de paz, era a presença de uma moça rara, daquelas que se encontra uma vez só, de rara estirpe: Cheia de nobreza, vistosa e carinhosa.
Ouviu o primeiro grito do papagaio que reclamava sua ração diária. Ele reclamava a presença dela, o pequeno animalzinho brincava de ser inteligente e dele gostava porém não tanto como dela, a quem dedicava verdadeira adoração. Os pássaros desenhavam suas sombras na janela e ela dormia profundamente, saciada e feliz com a presença dele ao seu lado. Ele ouviu a brisa nas folhas das árvores, o barulho do mar distante e sentiu a lufada de ar marinho a lhe umedecer as têmporas.
A pequena cachorrinha, substituta de uma outra a quem ela se apegara e já se fora, levantou da pequena cama onde dormira. Espreguiçou-se e ele viu nela as marcas do sono bem dormido; com as patinhas tentou acordar a dona mas ele fez um gesto que ela já entendia, "deixe estar". Ela entendeu e fixou o olhar nele, esperando o sinal para acordar sua maravilhosa dona. Os cabelos loiros dela se estendiam como uma linda cortina por cima dos lençóis, ela sempre os cultivara assim e ele fizera questão que os mantivesse fartos e brilhantes...
Ela acordava aos poucos e seu sorriso cheio de mistérios e covinhas se fez presente quando ele deu a ordem para que ela fosse acordada. As gargalhadas dela encheram o quarto de alegria e espalharam a luz pela casa.
--Samira! Pára!
--Acorde, preguiçosa!
--Que horas são?
--Dez e meia!
--Nossa, é tarde!
Ela o puxou para si, no impulso que o arrastara para sempre e ele a envolveu com os braços, mirando seus olhos cor de mel ou acobreados ou amendoados a depender da luz que batia neles, a depender do àngulo de visão que se utilizava para olhar a beldade. Samira tentava pular na cama, o papagaio já reclamava a ração, o perfume dela se espalhava pela casa. Era hora de levantar e todos já sabiam, Samira, o papagaiozinho, ela, ele, os pássaros lá fora, que dentro de um quarto, ainda em penumbra, dormia mais um anjo que precisava dela mais do que todos eles.
Todos a saudaram quando ela entrou no quarto e de olhos brilhantes, pegou o pequeno bebê no colo e o aninhou nos braços de fada.