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MEU SONHO IMPOSSíVEL. (crónica)
Ana Zélia
A vida é uma caixinha de segredos. Aprendi a abri-la logo de cara.
Meu sonho impossível é ter só pra mim um campo de futebol em toda a sua extensão.
O verde do gramado plantado, tratado; as traves em seus devidos lugares. Arquibancada com capacidade para milhares de pessoas. Um Maracanã quem sabe. O maior do mundo. Tenho certeza de que com todo este tamanho teria lugar para colocar minhas tralhas, trecos que chamo mobília e que tumultua minha casa tão pequena.
Meus amigos perguntam sempre o que faria se tivesse um campo de futebol. Resposta simples. Encheria cada espaço dele com minhas coisas.
A arquibancada usaria como estantes em cada canto dela um livro, um pedaço de papel, de mim. Minhas poesias, contos, cronicas, minha vida. Seria a parte mais importante e a mais querida.
No fosso os animais em extinção, tartarugas, tracajás que viveriam em união com as garças alvas, o pirarucu, o peixe-boi, espécies raras. Os botos vermelhos e os tucuxis.
No campo usaria stands cada qual com sua utilidade: panelas, pratos, utensílios de cozinhas. N´outros minhas porcelanas, estátuas chinesas, candelabros, meus Santos vindos de tantos estados. Um seria especial: Nele minhas fotos molduradas, minhas talhas em madeira entalhada, trabalho meu, meus quadros, uns pintados, outros apenas quadros, barcos, mulheres, ilhas desertas, sonhos...
Careço de uns tantos para em cada um deles colocar os molambos, roupas que espalho em dada canto. Se restasse espaço dentro de um campo de futebol só meu, colocaria plantas, orquídeas, palmeiras, trepadeiras, rosas. Não deixaria um lugarzinho vago, nem mesmo para armar minha rede, sem espaço dormiria no chão á vontade, feliz da vida, tudo a meu lado, ou armaria minha rede nas traves e assim embalaria meus sonhos olhando o céu estrelado, as nuvens que passam deixando saudades porque não retornam.
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Manaus, sem data. Estou escrevendo todo o meu passado em dez anos de rádio, produzindo e apresentando Momento Poético. Tinha que ter muita criatividade para não cansar meus ouvintes. Passado, sombras que se foram. Restam os papéis, as mensagens. Ana Zélia (14.12.2008)