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cronicas-->O Sonho da Concha -- 08/02/2009 - 23:38 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nasce o sol entre as nuvens que se levantam com os primeiros ares da manhã. Ele teve uma noite agitada, sonhou com as planícies que costuma visitar quando tem de achar algum animal do rebanho escondido. Pensou em sua companheira, suavemente respirando em sua cama, pegou um cigarro e colocou nos lábios. A luz da brasa iluminou seu rosto no escuro do quarto.

(O texto nasce das mãos como nasce uma virgem de uma concha; os cabelos delas enrodilhados ainda se fazem sentir nas pontas de meus dedos, a pungente sensação de fios de ouro entre as pérolas que insistem em aderir à sua pele macia e lisa)

João vai à luta, entre os farrapos de sonho que teve, com a concha que nunca vira, com o rosto que soubera ser o dela, prepara seu café enquanto pensa na dura lida de seu dia nascente, nas reses que vai ter de achar, no latir dos cães de pastoreio, no ranger dos dentes de seu cavalo puxando o freio com fúria e cuspindo em suas pernas - Rebelde como ele só.

(Nasce assim a luta do texto. Teima em sair das mãos do autor que sonha com o sonho de João, que pensa no arreio de índio, seu cavalo e ri da rebeldia de seu parceiro de trabalho, mas as pérolas continuam nos cabelos da linda virgem, que nasceu da concha para João, que nunca viu o Mar - só ouviu falar dele; enquanto meus dedos percorrem a maciez das costas dela, as pérolas grudadas em desenhos nas costas, no relevo de suas ancas)

A esposa de João se agita; é um sonho de novo, ela está em uma concha, um objeto nunca visto e João bate a xícara de café forte na cozinha, sem que ela desperte do sono pesado induzido pela quietude da madrugada.

(João se debate, porque uma virgem, porque numa concha? Porque ele sonha com isso agora, bem na época em que vai começar o abate dos bois e ele tem de zelar pela integridade da boiada de seu patrão? Assim diz o texto, ele se faz por si mesmo, qual um solfejo na gaita de boca de um artista, que cria as melodias do caos dos sons soprados)

O primeiro pássaro pia e é o aviso; João sela o cavalo e coloca seu corpo sobre a sela do animal semi-adormecido; índio acorda de vez quando a voz do dono lhe ordena:
--Eia, pangaré. Vamos, é de manhã.

índio sabe que é seu dono, sabe pelo peso, sabe pelo cheiro, sabe pela entonação de voz. Sabe que ele inteiro cabe em sua sela e acostumado ao seu peso, rompe o portão da madrugada com a bruma seca a se elevar do córrego próximo, onde a concha se abriga, onde nascem as pérolas que alimentam os sonhos de João, de Marina, sua esposa, dele mesmo que sonhou com a concha na cocheira e do cão mais fiel de João, Matreiro, que segue a dupla alegremente

(Em sua cama, Marina sente a náusea que a invade.
O doce brilho das pérolas em suas mãos, num colar de linda simetria. Suas mãos recebem o presente, os cabelos dela se misturam aos da moça, que sorri um sorriso suave, mas imperioso. Ela sente que a náusea aumenta como o texto que se agiganta agora, saindo dos dedos ágeis de minhas mãos, numa solidez de água furta-cor, numa sapiência que é só dele, numa inquietude que permeia a floresta em seus encantos)

João agora está na planície, atrás dos bois desgarrados; Marina levantou-se e curva-se sobre o assento sanitário e vomita.

De noite, o colar que ela recebeu será revelado e as pérolas do sonho se transformarão em eternidade.
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