Alcyr Matthiesen
Como nos anos 50, o Cine Santa Helena volta a funcionar com toda sua pompa. Totalmente reformado, com cerca de 700 poltronas, retornamos ao passado. O filme a ser exibido no novo Santa Helena é
A Troca, com Angelina Jolie. Está sendo lançado no Brasil em fevereiro de 2009 e Araras tem o privilégio de exibir tal película como pioneira no Interior.
No lado direito do saguão, a bilheteria é a mesma, onde a funcionária se apressa em fazer o troco para atender o próximo frequentador ancioso em comprar o seu ingresso e o da namorada, que espera ao lado com a carteirinha de estudante para pagar meia-entrada. Como na sessão das sete a fila crescia, o gerente do cinema antecipou a venda dos ingressos na própria fila que se estendia até as paredes do Solar, já dobrando em direção à Rua Benedita Nogueira.
No lado esquerdo, entre grandes cartazes fixados na parede fica a mesma bombonière, como a de 50 anos atrás, todavia, alguns pais que chegaram mais cedo preferem comer um pastel no Bar do Saito e comprar balas no Bar Sónia. Os simpáticos japoneses António e Vitório, hoje já não estão mais na sorveteria, mas dois outros jovens atendem a freguesia. Dona Lúcia Nakagawa é a mesma e apressa-se em vender balas e servir a sua tradicional pizza aos casaizinhos sentados no bar, enquanto não chega a sessão das nove.
O Valdemar Lépore não se encontra mais na cabine de projeção de onde anunciava o
Café Kibão no alto-falante, outrora instalado sobre a marquise. Mas um novo técnico, faz-se ouvir no mesmo alto-falante, levando mensagens publicitárias que vão ao ar entre uma e outra música, de modo a descontrair o ambiente.
Hoje, não é mais o
Nezinho que recebe os ingressos na entrada da sala de projeção, ao lado da cortina azul, mas outro funcionário mais jovem. Os adeptos da sétima arte apressam-se em entrar logo em busca do melhor lugar para assistir o filme. Quanto aos casaizinhos de namorados, esses entram pela escadaria lateral e procuram um lugar, o escurinho da aconchegante galeria, a parte elevada localizada ao fundo. Frente ao grande filme de estréia, parece que todos se esqueceram das novelas da TV e dos computadores, preferindo um lugar nas frisas ou nas poltronas do fundo. O novo cinema contratou de volta um
lanterninha ou
vagalume, como os de antigamente. Eles têm a função de orientar os que chegarem atrasados, após o início da exibição. Ah, foram também encarregados de controlar a moral, piscando o farolete nos casaizinhos mais afoitos que se entregam a beijos prolongados e
agarrações, sempre que as cenas projetadas ficam escurecidas.
A sala de exibição não tardou a ficar cheia, contudo, algumas poltronas pareciam vazias. Na verdade, as garotas estavam guardando o lugar com uma bolsinha, enquanto os namorados saíram um instante para comprar balas e pipocas.
A cortina azul da entrada é fechada e as luzes gradualmente vão perdendo o brilho. O público demonstra uma espécie de apreensão e o burburinho do ambiente é interrompido por um dim-dom, um som grave e duplo emitido por um gongo que funciona como aviso que a projeção vai começar. Uma música toma conta do ambiente: é o tema do filme
E o Vento Levou (para lembrar os velhos tempos) e grande cortina dupla começa a abrir, exibindo a tela gigante, enquanto as luzes se apagam de vez, provocando um rápido momento de escuridão. Lá do fundo, da janelinha da cabine de projeção, um facho luminoso cintila e ilumina a tela branca dando início à exibição... De repente, um som estridente de um despertador. Pulo sobressaltado na cama... Que pena, eu estava sonhando!
Alcyr Matthiesen é biólogo, professor universitário aposentado e historiador de Araras, nossa cidade natal.
Fonte: OPINIÃO JORNAL, Araras (SP), Sábado, 21/02/2009, Página 1B.
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"Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!"
LUIZ ROBERTO TURATTI.