Você sai de manhã, vai estudar. Vê uma velhinha sentada na calçada, aparência frágil, lenço na cabeça, estendendo a mão, pedindo esmola. Que você faz? Dá uma moeda de um, cinco, dez, vinte e cinco, cinquenta centavos ou um real? (Mais provável alguma das quatro primeiras) Por que você deu? Teria pensado você que estando na mesma situação dela também gostaria que todo mundo que passasse por ali também desse alguma coisa? Se assim foi parece que você é uma pessoal sensível, se bem que isso não é nenhum teste de bom caráter.
E o calendário envelhece. Você sai de manhã e passa pela velhinha todo dia. Até que, no dia do seu aniversário, você sai para estudar, segue o mesmo trajeto, e não vê mais a velhinha na calçada.
Você continua saindo, estudando. Tem que apresentar um trabalho na Faculdade. O trabalho é em grupo, a nota também, e você está nervoso. Você pensa no princípio do tempo: "Eu começo a falar de 9:10, de 9:15 eu termino". Às 9:16 você pensa "Foi fácil". E as 9:17, só que cinco anos mais depois, você está no seu trabalho olhando para um relógio de parede que é mais feio que o da sua casa.
Você é repórter, vai sair de noite para cobrir uma partida de futebol. O time da casa ganhou por 2x0. Você pensa: "E se o juiz não validasse o primeiro gol, realmente marcado em condições irregulares? O jogo terminaria 0x0? E se depois dos 2x0 fossem expulsos três jogadores do time da casa? Será que os visitantes virariam o placar? E se aos 15 minutos do primeiro tempo, quando estava 0x0, o jogador camisa 7 do time da casa, que estava no meio de campo, tocasse a bola para a direita e não para a esquerda como fez? A jogada seria outra. O jogo seria outro. O resultado seria outro.
Mas você fez uma boa matéria. Amanhã os torcedores do time da casa vão ler e vão gostar. Semana que vem talvez nem leiam porque o time perdeu de goleada. E nos dois meses subsequentes vão ler com mais raiva ainda porque o time não ganha mais nada. Que é que você tem com isso? Você torce pra outro time que está em outro campeonato. Aliás, quem é que vai notar o nome do cara que escreve sobre gols e bolas na trave na última folha da seção de esportes?
Você saiu mais cedo para trabalhar. Pegou ónibus lotado. Está pensando na estressante jornada que vai Ter e nem nota senhora que pede licença. O ónibus para. O ónibus entra em movimento. Você acompanha com os olhos a figura da passageira que desceu: uma velhinha, aparência frágil, lenço na cabeça... Depois você desce e está com sede. Que bom! Você bebe uma água de coco numa barraquinha qualquer. Que ruim! Seu dinheiro acabou. Que nada! Tem um banco ali perto e você é cliente.
Você entra no banco pra sacar um dinheiro.
Há uma assalto.
Você leva um tiro.
Regra de acentuação: todas as proparoxítonas são acentuadas.