Quer saber? Ando cheio da internet e de certas mensagens que chegam todos os dias. Mesmo assim, hoje me conectei e enviei um e-mail a todos os meus contatos. “Pessoal, estarei viajando. Enquanto isso, espero que não repassem mensagens diariamente”.
O que eu gostaria, na verdade, é que parassem de mandar todos esses e-mails que discutem problemas e assuntos desagradáveis. É o esquema do careca, o dinheiro na cueca. Nas meias um pacote, na praça outro calote. Muito assalto no sinal, tá em cacos o hospital. Outro imposto disfarçado, mais pedágio escancarado. Uma farsa no Senado, combustível batizado. Postos cartelizando, operadora roubando. Bandido em liberdade, nossa casa atrás da grade...
Peraí, minha cabeça não é arquivo de delegacia! E tem mais, alguns e-mails são atrevidos, questionam as pessoas que não se mobilizam em defesa do cidadão, do contribuinte, do consumidor e sei lá o que mais. Pô, o que eu ganho prá fazer papel de promotor, defensor, delegado e ouvidor? E querem que eu saia da minha rotina para brigar contra o que está errado há 500 anos!
Leio esses e-mails e me pergunto: “E o kiko? O que é que eu tenho a ver com esse monte de problemas? Tem tanta gente prá resolver essas coisas, por que tenho eu de esquentar a cabeça?”
Tudo bem, sei que tem esculhambação demais no país, mas dá um tempo. Pensa bem. É verão, carnaval chegando e uma novela estreando. Quero pensar em coisas agradáveis, cara. Sou filho de Deus, quero um pouco de sossego. Não consegui derrubar o treinador do meu time e querem que eu ajude a derrubar um governante safado. Tem dó. Querem que eu perca o show da minha escola de samba prá brigar por escola pública? Vou perder o churrasquinho de domingo prá ler e reenviar e-mails contra corruptos? Acha que estou com cabeça para votação de movimento pela ética aqui e ali? Pô, contento-me com a votação do Big Brother (está sensacional). Por que teria eu de me meter em movimentos por justiça e moralidade? Meus problemas vou resolver com uma mega-sena que vem por aí. Ou com aquela nomeação prá ajeitar minha vida de vez. Nem vem. Me poupem.
*Este é o desabafo imaginário de algum sujeito avesso ao exercício da cidadania... E que tem a triste realidade que bem merece.