Conheci um senhor, na minha cidadezinha no interior do Ceará, um cidadão analfabeto, desse falante, que sobre qualquer assunto tem sempre uma opinião e “vasto conhecimento”.
Esse senhor, um negrão de uns dois metros de altura, falecido há pouco tempo, já perto de seus cem anos, não tinha receio de dar opinião sobre o que fosse. Numa conversa, ao se falar sobre qualquer assunto lá estava ele, bem falante, mostrando seus conhecimento, se expressando dentro do seu linguajar analfabeto, mas que ele sempre procurava temperar com alguns termos, para mostrar erudição. E os termos empregados, claro, não tinham nada a ver com nosso Português, pois eram criados por ele.
As pessoas da cidade conhecedores da “erudição” dele e dos seus “vastos conhecimentos” sobre qualquer assunto, sempre procuravam-no para emitir opinião quando surgia uma oportunidade. Claro que tudo tinha única e exclusivamente a intenção de se fazer gozação com as palavras que ele empregaria ao dissertar sobre o assunto, a que fosse chamado a opinar.
Certo dia, na cidade estava um calor infernal. Meio dia em ponto, o tempo fechou e caiu uma neblina rápida. A chuva fina fez o calor aumentar, e ao cair no meio da rua quente, subiu imediatamente um vapor da terra, decorrente do mormaço e do chuvisco que caíra.
Naquela oportunidade, o senhor Manuel, assim o negrão se chamava, passava no Centro da cidade, dirigindo-se para sua casa no horário de almoço, justamente na hora da chuva e quando vapor ainda podia ser visto na rua.
Diversas pessoas que se encontravam na pracinha do Centro da cidade ao ver o seu Manoel passando e o mormaço subindo, aproveitaram para pedir-lhe uma explicação “técnica” sobre o fenômeno.
- seu Manoel, seu Manoel, por favor, gritou um dos populares ali presente, o senhor pode nos explicar o motivo daquela fumaça, subindo ali no meio da rua, depois deste chuvisco?
Não se fazendo de rogado, ele se ajeitou, todo cheio de pose, e com um vozeirão grave deu a seguinte explicação:
- Meu filho, isso é devido à “massa cefata da temperatura do idioma do ambiente”.
Todo mundo aceitou a “explicação técnica” e ninguém perguntou mais nada, pois a “explicação técnica” do que seria “massa cefata da temperatura do idioma do ambiente” seria ainda mais “científica” é menos compreensível.
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO –
FORTALEZA, FEVEREIRO/2010.
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