Quinta passada, não tendo nenhum programa em vista e entediada pela solidão, aceitei acompanhar um casal amigo a uma festa de aniversário de seu diretor, grande empresário no ramo da construção civil. Tudo bem... Lá fui eu, toda afoita, pensando ter ganho aquela noite de quinta, em que meus fiéis acompanhantes viajaram a negócios, os dois, para meu desconcerto. Mas estava ali minha repentina salvação de última hora. Não posso mesmo me queixar, sempre acabo salva pelo gongo.
Gente granfina - pensei - ao menos vou comer muito bem, coisas em que não toco diariamente, nem com os olhos. E lá fomos nós, felizes da vida. E eu, cheia de perspectivas de ver algo diferente do meu "lugar comum" desta minha vidinha toda religiosamente igual, numa rotina deliciosamente agradável, mas sem surpresas nem comidinhas feitas por um "gourmet especialité".
Caramba!
Na hora exata do rango, as mesas, impecavelmente compostas por toalhas de linho bege, enfeitadas por laços de fita cor-de-mel, só apresentavam bandejinhas de pastinhas com torradinhas e alguns canapés esquisitos, de gosto mais esquisito ainda... O que, para ser sincera, me fez perder a fome quase que de imediato. Ainda estiquei os olhos, para ver se alcançava alguma jarra de suco de uva ou laranja, os meus prediletos... Mas... Nada. Trágico!
Acho que a dona da festa percebeu meu desencantamento, pois veio me interpelar: "A senhora está de dieta médica? Vi que ainda não tocou em nada. Se quiser algo diferente, eu mando preparar"!
E eu, mais do que depressa, antes que a bondosa anfitriã mudasse de idéia, apressei-me logo a responder: "Sim! Estou de dieta. Não posso comer nada disto... Pode me preparar um ovo frito, e colocar entre duas fatias de pão integral? Caso não tenha ovos, serve um pão francês com uma salsicha dentro, cebola e tomatinhos; os americanos chamam de "hot-dog", mas eu chamo de "mata-fome".
A mulher, com olhos arregalados de espanto, encaminhou-me à cozinha, deixando-me na companhia das cozinheiras, dizendo: "Atendam rapidamente a esta senhora, que ela parece estar com muita fome"! Mas, o pior não acaba aqui... As cozinheiras, mettre, chef, ou lá que diabo seja, também olharam para mim, do alto, como se eu fosse... Que grande piada! Os empregados acabam por ter as mesmas atitudes de seus patrões. Mas, eu queria era o meu "mata-fome" e voltar logo para casa, usufruir a companhia de minha Bia... Antes nunca tivesse saído de lá. Ai! Como o tempo se arrasta, quando o ambiente não é´propício...
Sei lá o termo que ia usar aqui... Só sei que o meu "hot-dog" estava uma delícia e, na falta de uma coca-cola (onde já se viu, uma casa não oferecer uma cocacolinha em festa de aniversário, eu heim!) tomei um copo duplo de champanhe mesmo... Horrível, pois não era docinha, como as que tomamos em casa, na passagem de ano.
Arre!!!!
Ainda bem que não nasci, nem me tornei rica. Mas, se um dia isso acontecer, me aguardem: convido todos para os meus restantes aniversários e juro que em minha festa não vai ter pastinha de nada! Só pipoca, batatas fritas, pizzas e hot-dog... este, com direito a linguiça ou salsicha, molho ou sem molho... Cruzes!!!!