Hoje, o dia amanheceu frio e uma chuvinha fina, muito fina me fez permanecer em casa. Não havia muito que fazer. Vi um pouco de televisão, li jornais e escrevi algumas linhas.
A inspiração também não me pareceu bem disposta. Talvez o tempo frio esteja atrapalhando e então me pus a lembrar. Lembrei-me dos tempos idos. Faz muito tempo, lá em Ipupiara, no interior da Bahia, eu e o primo Jeremias (fomos sempre amigos e andávamos juntos) estávamos no meio de grandes mangueiras. Na Bahia são muito comuns grandes pés de manga. Uma delícia. Não foi a toa que o poeta Carlos Ribeiro Rocha escreveu: "Velha mangueira - altar da Natureza,/onde cantam contritos passarinhos,/dos ramos implorando mais beleza/para o adorno macio dos seus ninhos!"
Pois bem, havia uns 25 pés de manga de várias espécies, entre outras, manga comum, espada (lá não se diz "Bourbon"), manga-rosa, manga-papo e outras que não me recordo agora.
O primo quis apostar comigo: seria capaz de subir no primeiro pé de manga e sem tocar a terra descer no último pé de manga do pomar do meu avó Gasparino. Aposta feita, lá fomos nós pelos galhos das mangueiras, como se fossemos macacos a pular, de galho em galho, até chegarmos ao último pé de manga.
Ninguém venceu a aposta, mesmo porque nós dois conseguimos o feito. Chegávamos a casa à noitinha e a porta já estava trancada com a tramela. Era preciso chamar alguém para abrir a tramela e aí não tinha jeito: era necessário explicar a demora.
Hoje, quase nada mais resta daquelas mangueiras do pomar e do que fomos também. Só as lembranças e as saudades é que permaneceram intactas. Bons tempos, meu caro Jerry.