Uma imagem: Você anda em primeiro plano, sorriso no rosto e olhos de um brilho leve, exato e na medida de nosso encontro. Eu posso e devo achar o que gostaria que fosse ou devo saber que à sua visão, sou eu mesmo uma miragem e seu olhar um gotejar de lágrimas cristalinas? Alguns dizem que o sonho seria chave de ouro de nosso dia infindável, uma sábia antevisão do que seria nosso futuro em mescla com nosso passado; outros pensam que o sonho seria uma válvula de escape. Eu não sei, mas o vislumbre de seu corpo envolto em diáfano tecido, cheio de pedras minúsculas que rebrilham ao reflexo de um sol que nunca se põe redefine meu mundo e minha maneira de ser.
Sua elegància, seu refinado andar em pontas de pés descalços (e como são belos os seus tornozelos!), na superfície de um lago imutável, na dança de um cisne em ritual de magia e segredo... Um desenho em tons pastel; sua boca num convite indefensável, o olhar de lado e os braços no ar de um revoluteio, uma circunvolução completa e os aplausos infindáveis no final. Sua platéia são os meus olhos extasiados na admiração que, bem o sabe, só eu sei qual é a medida e, no entanto, sabedora da fantasia, não mede esforços para que seu total encanto me atinja em cheio, pleno de um pulso de matéria prima, aquela mesma que nos move na vida e na esperança.
Em sua dança perpétua, sua perfeita cadência se encaixa em meu ritmo, no vago olhar tristonho que me fixa nas faces, o rubor que logo se tinge em púrpura e segredo. Não posso fazer nada, apenas esperar que o que eu digo, o que eu faço nada mais seja que um reflexo de todo este mundo extenso e largo ao qual me convida a acompanhar. Um vasto mar de intensas divagações, um profundo oceano pleno de corais e seres de luminosidade semelhante, porém jamais igual à sua.
Todos os sentidos se aguçam em sua presença, é sua a fragrància que rebrilha na atmosfera. São suas folhas que vejo se desdobrarem, uma a uma, são suas as pétalas de um assomo de primavera tingindo o horizonte de uma suave transparência, são suas as palavras que afinal se despedem de seus lábios e num segundo, fazem as pazes com meu alvoroço. São os seus signos, é sua força, é meu o momento de desfrutar o que eu sinto, neste exato instante, agora que eu escrevo e logo existo: