CANSADOS DE CONTRIBUIR...
(Por Germano Correia da Silva)
Um padre prestes a se aposentar pediu ao sacristão de sua paróquia que fizesse, de forma bem sutil, uma pesquisa junto aos seus fiéis e descobrisse a opinião deles acerca do seu desempenho na sua comunidade até aquele momento.
Havia rumores de que esse padre estava ficando meio caduco e, de vez em quando, durante seus sermões costumava deixar em dúvida a essência e/ou veracidade de alguns relatos bíblicos.
O sacristão que também estava com a idade avançada não entendeu bem o pedido do velho padre e resolveu fazer a pesquisa encomendada por sua própria conta e risco.
Decidiu, portanto, elaborar um texto sucinto versando sobre um tema polêmico: a oferta voluntária dos fiéis para ajudar os mais necessitados. Visava com isso, evidentemente, melhorar a receita da igreja e, na medida do possível, isentar o velho padre de qualquer constrangimento ou mal-entendido perante a comunidade.
Sua proposta solicitava a participação financeira de todos os fiéis, sujeitando-os ao desembolso mensal de uma oferta que equivalesse à décima parte do salário ou renda de cada um deles, indistintamente, e o texto em questão teve a seguinte composição:
“Queridos fiéis: todos nós sabemos que segundo os ensinamentos do Novo Testamento não existe obrigatoriedade do pagamento de dízimo em nenhuma igreja, o que se prevê ali, na verdade, é a possibilidade da oferta voluntária dos fiéis. E, para que as escrituras sejam cumpridas, uma vez que somos livres para contribuir e não há nenhum pecado nisso, nossa paróquia espera que os mais necessitados dessa comunidade sejam plenamente socorridos. Esperamos contar com a efetiva participação de todos.”
O cartaz, todo produzido em letras garrafais, foi afixado nos murais das entradas principais e secundárias da igreja para que nenhum fiel deixasse de lê-lo.
A medida adotada pelo sacristão em pouco tempo chegou aos ouvidos do padre que, após pensar bastante a respeito do assunto exigiu, de imediato, a presença de seu auxiliar para uma conversa a dois.
O sacristão não sabia onde pôr a cara e o padre demonstrando muita irritação disse de forma bem clara:
- Não era para você sobrecarregar mais os ombros do nosso povo. A maioria de nossa gente já tem vindo aqui rezar para ver se consegue se livrar da obrigatoriedade do pagamento de tributos determinados pelo governo. Já pensou se essa sua atitude impensada provocar uma debandada sem controle dos nossos fiéis mais assíduos?
- Trate de arrancar todos os cartazes, o mais depressa possível, caso contrário essa medida arbitrária irá configurar uma cobrança compulsória de dízimos para nossa igreja; nossos fiéis já têm “contribuído" demais de forma obrigatória – desabafou.
|