LUÍSA - Do livro: Um Floral de Sombras.
Luísa era bonita,
Ah como lembro
Dos olhos seus
De amêndoas
Sobre o rosto.
Vendia sem ligar
Pros seus motivos
A generosa sedução
Do corpo.
Visitas costumeiras
Sempre à noite
À oficina do amor
Onde operava
Aquela juventude
Fresca e alegre
No brilho de uma pele
Acetinada.
Do Oriente os traços
Bem visíveis:
Uma herança de origem,
Inapagável.
Mas o trunfo maior
Dos seus encantos
Pelas vagas do corpo
Navegava.
Luísa era bonita,
Desejara
Ter vários filhos
Barulhando a casa;
O cheiro do seu homem
Preso às dobras
Do macacão que usasse
No trabalho.
Luísa era bonita,
E até sonhava
Com algum marujo
Comandando o barco,
Deixando atrás de si
Mares distantes
Para ancorar no cais
Dos seus abraços.
Luísa era bonita,
Ela adorava
Ver a concorrência
Disputando espaço;
Os cochichos de oferta
Nos ouvidos,
Feito um leilão
Que espera a melhor paga.
Luísa era bonita,
Ah foi bonita!
O desgaste roubou-lhe
A juventude.
O presente não sabe
Os seus encantos
Nem os por quês
Das rinhas ou disputas.
Luísa era bonita,
Corajosa.
Ela enfrentava as grandes
Tempestades.
Muito inverno venceu,
Porém, um dia
Um vendaval maior
Tragou-lhe o barco.
Luísa era bonita,
Veio o bacilo
E o peito abriu-se
Em forma de cratera.
O marinheiro
Não chegou a tempo,
Falta de vento que
Impulsasse as velas.
|