Corriqueiro espetáculo
Nas calçadas,
Quando o gado da noite
Tenta a sorte.
Reunidas em bandos
Laborando
Com as prendas desejáveis
Sempre à mostra.
Vão ruminar a dor
Que têm no pasto
Quando a bússola
Da vida perde o norte.
Operárias pacíficas
Espalhadas,
Regendo a noite
A oferecer os dotes.
É a vida no varejo
Sempre em risco
Por razões profissionais
Que lhes são próprias;
Levadas nesse eito
Compulsório,
Feito novilhas
Prontas para o corte.
Aquelas mais antigas,
Escoladas,
Por mais experiência
Nesse palco,
O rosto feito em festa
E a alma em ruína,
Melhor comandam as cenas
Do espetáculo.
Enquanto isso a platéia
Bem nascida
Desse teatro a cena
Desaprova;
Em pensamento
Quer jogar tomates,
Com a vontade maior
De atirar ovos.
A semente espalhada
Em terra inóspita
Sempre padece
De escassez de frutos.
E esses espinhos
A rondar-lhe o entorno
Já são presságios
De colheita murcha.
A noite segue
E o mesmo palco encena
Natural desventura
De igual trànsito;
Enquanto o travesseiro
Ainda acalenta
A vitória no escopo
Da esperança.
Na curva do horizonte
A velha bússola
Aponta a estrada
Que não tem mais volta.
Sob a laje do tempo,
A juventude
Perdeu seu brilho
Já não desabrocha.