QUEM PAGA ESSA CONTA?
(Por Germano Correia da Silva)
Os moradores da comunidade Cafundós do Judas estão em polvorosas. Alguns torcedores fanáticos, descontentes com o mau desempenho do seu time de futebol ao longo do torneio regional, decidiram torcer a cada nova partida, para times adversários, como forma de protesto.
Jô Formigão está indignado com a mudança repentina de comportamento dessas pessoas de sua comunidade e sem medo da reação popular ele soltou o verbo:
- Eu sou do tempo em que o torcedor que tinha vergonha na cara nunca mudava de casaca, pouco importava o preço que iria pagar. Quando decidia rezar para seu time ganhar, rezava para o mesmo santo; na hora de torcer para seu time de coração o fazia de forma despretensiosa, sem querer nada em troca, mas pelo que vejo as coisas mudaram muito e decididamente não dá mais para continuar desse jeito – esbravejou.
Há quem diga que ele está disposto a mudar de comunidade tão logo termine o torneio regional e se isso vier a ocorrer será um choque muito grande para as pessoas que o admiram. Afinal de contas, ele sempre foi um símbolo do bom exemplo a ser seguido pelos jovens e adultos de sua comunidade.
O crioulo Murundu, ex-morador da Vila Macambiras, próximo a Cafundó do Judas, tem uma opinião totalmente contrária à do Jô Formigão.
Dia desses, enquanto tomava sua bebida habitual no bar O Derradeiro Gole, disse em alto e bom som, que se for preciso vestirá a camisa de qualquer time de outra comunidade, contato que essa sua atitude esportiva possa lhe dar muita alegria e, consequentemente, tristeza para o torcedor do time adversário, e vai mais além:
- Analisando friamente a reação do meu amigo Jô Formigão, que de uma hora para outra resolveu colocar a fidelidade esportiva como ponto de honra nas atitudes de um torcedor, é possivel que estejamos diante de um torcedor extraterreno - caçoou.
Disse, ainda, que o torcedor que se preza sempre quer ver seu time ganhando, custe o que custar. Ele não está nem um pouco preocupado com a emoção e/ou comoção que possa vivenciar o torcedor do time contrário.
Se por um lado o que pensa cada um dos personagens acima citados são opiniões pessoais que devem ser respeitadas, a emoção proporcionada a um esportista em razão do resultado positivo obtido pelo time que ele torce, tem muito a ver com o que ele esperaria de si mesmo se estivesse no lugar de um daqueles jogadores vitoriosos.
Assim, se esse resultado positivo poderá ser obtido por meio de métodos fraudulentos, sem o mínimo de esforço despendido por parte do time que necessita ganhar o jogo, essa emoção que o torcedor irá sentir após a obtenção do resultado “esperado” tenderá a se transformar num sentimento irreal ou talvez não.
Em ambas as situações, querendo ou não, o pobre do torcedor que frequenta os estádios, dando uma força para o seu time do coração, é quem paga a conta...
|