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cronicas-->O Vaso Sagrado -- 27/12/2010 - 18:48 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Adornada com um diamante, ela se enternece num beijo em brasa, num silencioso arrebatamento. Suas rubras faces serenadas agora, um alvoroço de sonhos há pouco, ela se despede agora num longo beijo de ajuste de contas. Ela se cobrava isso, precisava dele para satisfazê-lo; precisava dele para que se sobrepusesse ao seu próprio querer bem, o querer de si mesma. Ah, quão bom é querer bem sendo livremente compreendida, tendo aos pés o ser amado... Ah, quão bom é o simples estar ciente de sua própria beleza, de sua força como mulher; De sua permanência absurda, de sua aura de perfume. Como é bom sentir sua respiração suave ao seu lado, aquecendo os meandros de seu corpo saciado... Todos os vasos comunicantes de seus mil cantinhos agora em paz, em suave foz de um rio que foi tormentoso há pouco. O diamante em seu peito refulge em brilhos, no teto do quarto, no espelho à frente de sua cama, mil reflexos se confundem em seus pensamentos enevoados de um prazer absurdo. Quieta agora, ela passa as mãos nos cabelos dele, orvalhados pelo tempo, nas suas costas enxutas e nos braços que ela acha fortes e bonitos. Suas unhas percorrem mil torvelinhos de cabelos escuros e claros... Ela respira profundamente e é como se o quarto rebrilhasse com sua satisfação esplendorosa.

--Dorme menino bonito.

Acalenta o seu sono um calor que emana de suas mãos. Ele sonha com os campos infinitos de sua infància, as corridas intermináveis pelas praias que sob seus pés voavam rápidas; suavemente ele corre pelas campinas, por morros que se espalham em mil morros de brilhantes, em reflexos que se insinuam em seus mil poros, nos infindos cantos de sua mente bafejada pelo repouso, pela lascívia, pelo abandono final. Mãos mágicas aquelas, que percorrem seus cabelos em ternos movimentos, em longos e ternos carinhos que enlaçam punhados de vez para soltar num súbito segundo para depois repetirem a mesma deliciosa sensação... Não é sem razão que ele se aprofunda e pula nos campos feito criança, vendo seu pai abraçado à sua mãe (já se foram há tempos) e ouve ao longe a cascata que um dia foi sua, onde sua avó ainda tece as quimeras dos caminhos de sonhos que ele trilha em vida.
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