Caminhando...
Um livro (Corrija-se, de Luiz Antonio Sacconi), outro dia, deu-me a diferença entre "andar" e "caminhar". Interessei-me.
Caminho todos os dias, há anos, tendo iniciado com regularidade, puxando pela memória, em 1989. Era um ano letivo importante para mim, cujo local do curso dava-me totais condições de soltar os pés, daí a lembrança. Havia a possibilidade de lanche no lugar do almoço, então restava tempo para as atividades esportivas. Foi um período muito bom sob todos os aspectos. A Urca, no Rio de Janeiro, dava ambiente favorável para a prática.
Dizia o texto que andar é "mover-se dando passos para adiante", e que caminhar é "andar por prazer, por esporte, ou com um objetivo bem definido".
Entendo que o meu negócio é caminhar seguindo a teoria do autor. Saio em horários distintos, furando a rotina, colhendo o dia. O percurso também é inopinado. O que der na telha. Nada preestabelecido. Prevalecem a satisfação e o toque de terapia. Surge espaço para o pensamento voar.
Observo as construções, diferencio estilos arquitetónicos, acompanho a movimentação do comércio, cumprimento os ambulantes, dou aló aos porteiros e, principalmente, admiro a paisagem.
As árvores, dos mais variados tipos, encantam-me. Sou fã do Flamboyant florido. Faço fotografias dos exemplares mais bonitos.
Não gosto, porém, longe de negar, dos cães deseducados a comprometerem a privacidade dos passantes. Estão incluídos aqueles conduzidos nas coleiras, Ã s vezes, não recebem limites.
Existem os que defendem a concentração total na caminhada, para podermos abstrair dos problemas. Dispensarmos as encucações.
Ensinaram-me a focar na respiração, no movimento dos braços e no bater ritmado do tênis no chão. A receita é difícil, pois há infinitos motivos trabalhando na dispersão da nossa atenção. É a moça que passa. É a água que vaza na calçada. É o carro que buzina. É a rua a atravessar. Tantas são as distrações!
Mas a dica funciona. Foi testada. Agora, mantê-la é tarefa árdua. Faz-se necessário conjuminar muitas forças positivas a um só tempo.
Não se pensa em mais nada. A cabeça fica cheia de tão vazia. A sensação é maravilhosa. Não há querela esquentando os miolos que sobreviva. Não existe preocupação que perdure. Todos os fogos saídos das ventas são abrandados. Ficamos calminhos, calminhos.
Outra vantagem a ser considerada no esforço de manter o foco é a feliz conclusão de que estamos vivos. Sim, senhor! Atentar para o que acontece em si durante o trajeto é ter consciência de que a vida está presente. Não há empecilho entre o caminhante e ele próprio. O rendimento do exercício até aumenta. A capacidade de superação é alavancada, e o melhor disso é que praticamente não se sente esse algo a mais.
Viver é o melhor remédio. Sem dúvida!
Em auxílio aos equipamentos essenciais de caminhada, sirvo-me de uns óculos escuros cheios de guéri-guéri, importados, projetados para o combate à claridade incómoda da neve. Coisa fina. Os óculos proporcionam uma visão protegida e diferenciada. As cores são realçadas, ficando mais bonitas. Está bem que não são essenciais, porém ajudam bastante.
Eliminando-se os exageros, a caminhada, além dos proveitos para a saúde do corpo, apresenta alívios à mente, quando atenua as tensões. Ao findar da atividade, o conforto nos invade. Isso é muito bom! Aproveitemos, então.