...Não me interessam as idéias menores. Deus não fez o Universo em cinco minutos, apenas para se pensar sobre ele uma eternidade toda. Não, seria muito simples. Decifrar as magníficas fontes do mundo visível e do mundo invisível foi o que nos fez pensantes. Foi isso que fez o velho eterno se materializar nas cavidades mais ocultas do mar, nas nuvens de Magalhães, nos berçários de estrelas. Ele nos fez pensar sobre o que temos de bom e de mau e também nos faz pensar sobre o que temos dentro de nós, partículas de estrelas do Infinito Prana. No fundo e todos sabemos disto, estamos interligados ao Cosmo. Ele se delicia nos vendo subjugados à mortalidade, este espectro que nos ronda, essa mão que nos tolhe os movimentos mais simples. Se pensarmos bem, a única certeza que temos é a de morrer. Não importa como, nem aonde, saberemos que existirá um momento em que, ao exalarmos o último suspiro, saberemos a verdade que é imanente a tudo e ao Nada absoluto. Alguns dizem que o Tudo e o nada nada mais são que o Todo e o Vazio subtraídos de si mesmos, isto é, poeira cósmica. Caos. Desordem, entropia. Esta sim tomará conta de nossos corpos, e então teremos um súbito relance do que seja ou o que quer que seja. Admito que possa ser só um sono. Será? Um sono? Um dormir? Um apagar de luzes? Muito irónico para quem criou a si mesmo e a todos a partir de partes de sua parte. Ele está aqui, em todos, e está em si mesmo. É. Só isto. Então, qual seria a lógica de criar leis perfeitas que se subvertem a si mesmas num mundo infinitamente pequeno, se Ele não quisesse escapar de si mesmo num raro momento? Daí vem o Caos e a desordem. Um imenso vazio. Um bolsão em perpétuo movimento, dentro de outro, e mais outro, regido por quem e como? Se tudo é infinito, não será também que nós que somos parte de sua parte, por quais sabe-se lá que artimanhas, possamos escapar desse avatar, num movimento perfeito, e nos unirmos à quele que nos observa? Ele, de tão grandioso, apenas se reserva o direito de observar? Não seremos parte de uma ilusão perfeita, a que ele tem de si mesmo e dos outros que regem os outros Universos que se entrelaçam em infinita solidão, no Eterno Chamado Cósmico que nos habita de maneira indelével? Será isto Maya, a Ilusão? Se é, será que ele pode despertar e se desperto, nos subjugará com a Verdade perfeita, aquela que nos cegará os sentidos e nos colocará frente a frente com os segredos de Sua Majestade? Ou será que ele próprio é Inércia e uma vez posto em movimento, nada pode fazer senão crescer incomensuravelmente até atingir o ponto em que, farto, se volte sobre si mesmo, num lento retorno à s origens ancestrais, e pouco a pouco, reverta o que tinha de mais nobre, as estrelas mais longínquas, em matéria que se adensa em pontos que convergem sobre si mesmos, em linhas que se encontram no horizonte e enfim, num Grande Ponto Primordial? Emitirá ele então o som primevo, aquele que veio com o mundo, fazendo dele sua vibração mais que pura, num berro ancestral e abrindo os olhos, saiba que seu nome é Nenhum?...