Uma certa chuva incessante
cai na janela, lambendo o vidro
desnecessariamente, limpando a poeira
impregnada na fresta da alma,
sendo sugada pela esponja ressecada
que é a pele seca do poeta analfabeto,
sem coração, sem voz porém vivo.
A chuva cai e encharca a vista,
deixa verde o verde, azul o azul
e escura todas as possibilidades.
Não falo de lamento, nem tento,
só escrevo o que sinto, como se fosse isento
de culpa, de dor, afinal, de lamento.
Um dia por vez - me disseram,
porém por vezes atropelo os dias,
e saio intacto, aparentemente.
Agora penso nela, e nada acontece.
Só silêncio e barulho de chuva
Em forma de prece.