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cronicas-->Manuscrito -- 03/06/2012 - 00:34 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Começar a contar uma história é fácil; o problema é expor os fatos de uma forma verossímil, até porque os fatos podem ser modificados, a narrativa pode torná-los mais ou menos acreditáveis, se é que alguém pode acreditar em algo num tempo em que não se acredita em nada. Um certo filósofo alemão já dizia nos idos do século dezenove que Deus está morto. Se alguém diz isto de peito aberto numa época em que mal a humanidade sabia dos micróbios, o que pensar de hoje em dia? Se ele tivesse nascido hoje, provavelmente mandaria metralhar o tal inóspito Deus e o reduziria a frangalhos, uma entidade esfacelada...Bem, tal não é o meu propósito; não desejo reduzir quem quer que seja a frangalhos, não desejo nada senão sobreviver. E pensar que há bem pouco tempo, eu ainda dormia com tranquilidade, tocava minha vida como os demais a tocam. Despertava para trabalhar, sabia de meus desajustes biológicos. Cuidava de meu corpo, lia meus livros e escrevia como se fosse escritor, uma pretensão que nunca abandonei, isto apesar do pouco tempo que tinha para trabalhar as minhas ideias. Eu sabia dos timings, tinha noção de meus erros...
Posso começar a dizer porque eu digo isto a todos, agora, depois de tantos anos, desde que eu achei o Manuscrito. Sempre fui dado a pesquisar livros antigos. Alguns eu os tenho em casa, ou lá aonde agora deixei minhas coisas e que provavelmente um dia serão descobertas as causas desse meu desterro. Quem primeiro vai notar algo de estranho será meu Locatário, mestre em duvidar de tudo o que eu dissesse a meu favor para postergar o pagamento do mês, sempre regateando o preço para baixo. Não que o lugar não fosse aconchegante, pelo contrário! Haviam pelo menos duas vizinhas que vez em quando me visitavam com uma insaciável voracidade e ele, o Dono da Verdade não me perdoava pelas queixas dos vizinhos incomodados com o ranger de certas molas. Ele que trocasse as molas, oras! Bem, o Manuscrito...Dessa vez eu deveria ter ouvido o nosso simpático reclamão. Ele me advertira uma vez, com um ar circunspecto, sério, professoral (adorava dar lições de moral nas horas mais impróprias):
--Meu caro, há horas em que a procura pode se tornar a maior inimiga do homem...
Sábias palavras. Talvez eu devesse levá-lo mais a sério e agora vejo que ele antevia algo a meu respeito de que eu nem suspeitava, àquela altura. Mas como eu dizia, adorava procurar livros antigos e mais de um deles jaz em minha pequena biblioteca que vai comigo quando eu me mudo--e de uns tempos para cá o lugar em que eu residia à época dos acontecimentos que eu narro aqui seria meu lugar mais estável e simpático. Eu estava numa de minhas pesquisas de livros antigos, seguindo a indicação de um amigo que conhecera um misterioso cidadão que havia dito que ele conhecia um lugar excelente para os colecionadores de antiguidades literárias. Ouso dizer que o tal misterioso deve fazer parte de um bando diabólico que já tramava algo contra mim, porque logo que cheguei ao lugar, notei a atmosfera algo sinistra assim que entrei no estabelecimento, sendo recebido por um sininho estranho e um camarada que me fazia lembrar aqueles personagens de filmes antigos. Ele devia ter seus um metro e setenta, vestia uma roupa larga até porque tinha a compleição de quem lutava para se manter a um peso rebelde; sapatos puídos, calça com suspensórios e um óculos dourado que devia ser uma antiguidade também... Raros cabelos ainda prateavam sua testa. Ele lia algo quando eu apontei à porta.
--Posso ajudar? Temos livros antigos, raridades verdadeiras. Pode olhar à vontade: Todos os que aqui vêm, voltam muitas vezes.
Comecei a explorar os labirintos da loja; a entrada não dava a exata dimensão do que era a loja toda. Quando notei, eu estava perdido e não havia fio que me guiasse a não ser o sino que volta e meia tocava, cada vez mais longe enquanto que mais e mais livros maravilhosos me encantavam. Livros como a Divina Comédia, com ilustrações feitas a bico de pena. Uma cópia perfeita! Mas haviam livros realmente antigos, alguns com páginas amareladas pelo manuseio de muitas mãos, outros de capas duras e carcomidas nas beiradas. Um exemplar do Paraíso Perdido chamou minha atenção: A ilustração ornava perfeitamente a obra de Milton.
--...Gosta de livros antigos?
O autor da pergunta pairava ao lado de uma das estantes onde haviam livros raros, não sei de onde aparecera. Carregava em seu rosto algo trágico, como se estivesse a ponto de chorar, ou muito emocionado. Eu lhe disse que sim, que adorava livros antigos. Eu geralmente comprava um a cada mês, e o fiz saber que era um amante de boa literatura. Também o fiz saber que queria ficar só mas ele não se fez de rogado. Nada tinha a ver com o dono da loja.Antes que eu pudesse fazer algo, ele já chegara perto e me indicava o tal Manuscrito. Ele me disse que o tal Manuscrito era muito antigo.
--Talvez, segundo apuram, ele venha do Antigo Egito, porém há os que defendam a hipótese de ter sido escrito muito antes; o documento teria sido escrito pelos atlantes, antes do continente ter sido submerso pela catástrofe que se repete...
--Como assim?
--São catástrofes cíclicas. Em verdade, talvez sejamos a quinta raça que vive sobre o planeta. Eles(os atlantes) chegaram ao apogeu uns 800.000 anos atrás. Sua evolução era tal que deixou marcas no planeta todo. As piràmides, a Esfinge. Teotihuacán. Ilha de Páscoa. Desapareceram sem deixar vestígios... a não ser o Manuscrito, que seria uma releitura de um outro antigo, mais ainda, que teria sido escrito pelos antecessores deles.
Da mesma maneira que iluminou o assunto, o gajo sumiu. Às vezes tenho a impressão que ele simplesmente se dissolveu no ar. Teria estado ali, ou teria sido um fruto de minha ansiedade para achar o tal Manuscrito? Há os que dizem ser a mente um labirinto e que ela nos aprisiona aonde quer chegar, se é que quer chegar a algum lugar. O Minotauro de nossa mente é a nossa própria percepção distorcida. A realidade é aquilo que se apresenta ou é um simulacro de algo maior? Seremos rascunhos de uma experiência cósmica? Enquanto procurava o tal documento, eu pensava num certo autor que conta que um sonho é um esquema proposto por alguém que sonha o sonho, fora dele. Isto é, o sonho é a realidade e a realidade é sonho. Eu estava quase chegando a esta conclusão quando deparei com o tal do manuscrito...
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