Com certeza ..., provavelmente seria um bom início para aquele discurso para mais de quinhentas pessoas reunidas na praça principal. Talvez não fosse, e após uma simples boa-noite dissesse, Iniciaremos nossa pauta de hoje com...
Vacilante, aquele orador não sabia se usava o mesmo termo que todos estavam usando naquele momento social, lançado em moda pela ex-ministra Zélia Cardoso de Melo na década de noventa __ o que ficara comum nas bocas do povo ___ ou se simplesmente utilizava seu próprio e subjetivo vocabulário. Por fim, após muito refletir no assunto, decidira em não contrariar o gosto público e logo já se podia perceber sua animada resposta. Enquanto todos euforicamente aplaudiram-no, um cidadão no meio da multidão cutucava uma mulher ao seu lado perguntando-lhe algo como se já soubesse de sua resposta:
- Este cara é bom, né?! - Ela, influenciada, disse-lhe um apenas com certeza! .
Sem mais vacilar, o efusivo orador parecia agora estar a par de todo o segredo no sentido de penetrar no interior daquelas pessoas. Fazê-las sentir; comovê-las com suas palavras, era tudo o que ele mais desejava. Mais uma vez ele usava, em momento apropriado, um termo diferente: ..."de hoje em diante, quero lhes dizer que jamais toleraremos uma política intransigente, e esta nossa reivindicação será imexível!...
Minutos depois, ao fazerem uma pequena pausa para um intervalo, em vários cantos eram percebidas as pessoas a repetir partes de suas expressões, assim como um papagaio mecànica e condicionadamente reproduz algumas falas humanas. Enquanto alguns diziam inapropriadamente e sem nenhuma reflexão um ... com certeza , outros, sempre arrumavam um jeito de encaixar essa outra palavra ... `imexível´, em suas falas. Pareciam estar relembrando os raros e decorados discursos do inculto ex-ministro do Trabalho António Rogério Magri, nomeado pelo então Presidente da República Fernando Collor de Melo.
Tudo era feito de modo involuntário, pois já virara mecànico, impensado, graças à frenética influência que todos aqueles (que eram muitos!) recebiam, assistindo aos meios de comunicação em massa __ em especial à quela emissora de canal de rádio e televisão __ ainda considerada conceituada e popular.
Terminada a assembléia, parecia que todos estavam ainda contagiados pelas insuportáveis expressões das décadas de oitenta e noventa, pois não saíam de suas bocas os "ti-ti-tis" daqui e os "ti-ti-tis" de lá. E, além dos "hein, hein, heins", ainda havia os "não ti contei"?!.
Não bastassem estes intragáveis maus gostos e da medíocre falta de criatividade, jogam-nos - desta vez, em pleno ano 2001, século XXI, mais aberrações linguísticas sem ter nenhum valor cultural, social ou político, expressões como: "thutchuca", "Tapinha não dói" e "Chapéu-de-couro".
Além desses outros intoleráveis e indolentes dissabores linguísticos, o que mais surgirá?!