Definitivamente, eu perdi a mão. Sempre me achei assim, meio de lado, mas quando ví que nem a flor lhe chamou a atenção, que nem o vinho que lhe prometí saciou sua sede, que minha denúncia ficou vazia e o meu copo cheio de vento, aí sim eu finalmente notei sua indiferença. Como se isso tivesse algum significado, num mundo cheio e pleno de vazios de existência, um planeta eivado de caos e desimportància. Notei minha efêmera passagem, captei tua distància inconcebível, qual a de um cometa em rara órbita. Muitos olhos poderiam olhar, medir minha trajetória, que não os seus profundos. Agora? Não tem mais significància; pouco se me dão os signos, uma vez que a flor murcha e o bilhete que lhe escrevi só fala de nossa imprevista impaciência mútua, um rumo de espera e vertigem. Nem um nem outro quer empurrar o dito cujo ao abismo, ao fundo do poço, então o que sobra é uma amarga retórica. Meu bem, esta é uma ocasião histórica, pois que lhe abro uns olhos bem enxutos, assim de rapina, olhos de quem sabe a rarefeita atmosfera de nossa intensa solidão a dois. Pouco importa, meu bem. Ou muito, depende da ocasião e da conveniência mútua. Digo-lhe dos signos, volta-me a face interrogativa, mascando lenta e pausadamente uma goma de mascavo sabor.
--Passe-me a pasta de amendoim?
--Vou passar a camisa.
--Adeus.