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cronicas-->Mais uma de Kelly -- 19/11/2012 - 18:06 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Continuando as entrevistas, chego a tempo de ver um gajo saindo do apartamento de Kelly...
--Quem era?
--...Um conhecido. Destes que não se pode perder.
Suas risadas se espalham pelo seu apartamento. Ela se ajeita, pega um copo e me oferece um gin tônica. Agradeço ( Não bebo mesmo) e ela me olha com ar contrariado. Saca do fundo do baú mais uma de suas vivências intermináveis.
--Essa é das boas.
--Conte-nos mais sobre sua vida.
--Minha vida é um livro aberto. Agora então, com esta divulgação toda, vai ficar escancarada!
--Com certeza.
...Pois bem. Eu era jovem. Sabe como é, se na Europa carro popular é carro popular, aqui, com estes impostos todos, é um artigo de luxo. Tudo bem que hoje o governo incentiva e tal, daí a gente não anda mais em São Paulo, a terra da fila boa. E tome rodízio!
--Aliás qual é sua chapa mesmo?
--Hoje não saio por nada daqui. Não é que tomei gosto por estas entrevistas?
--...Continue!
'Como eu dizia, eu era jovem e só havia juntado dinheiro para um carrinho popular, o que não é pouca coisa, hoje em dia, ou melhor, há uns dez anos atrás. Comprei o tal carrinho mas, na hora da revisão, cadê o dinheiro? Tive de fazer o que grande parte da população faz, levar em um mecânico barateiro, que não escorcha a gente. Estou lá entrando na tal mecânica, que eu recomendo (depois dou o endereço) e paro o tal veículo. Ninguém para atender. São estas coisas, o atendimento neste Brasil...Saio do carro, procuro daqui, procuro de lá. Nada! Ninguém!
--Olá!!Alguém na Batcaverna?
Debaixo de um carro, uma voz sumida me chama a atenção. Mas não é só isto. Belo par de pernas tinha o moço! Sabe o Roberto Carlos? Pois é. Eu, na efervescência de meus hormônios, sabe como é, as pernas ali na escuridão...E eu precisando que a coisa se resolvesse. Sai de lá um gajo em mangas de camisa, todo sorrisos. Eu, sem jeito, apresento meu carro.
--Ah, este aqui? Vai ser fácil.
--Diga uma coisa. Trabalha só você por aqui?
--É que hoje é meio que feriado, madame.
--Madame? Eu, não mesmo.
--Desculpe. Senhorita.
--Assim está melhor.
A coisa foi evoluindo, bem por aí. O moço estava sem ninguém para ajudar mas prometeu que ficaria pronto o carro em um dia. Um dia! Cheia de afazeres, coisa de papelada, registro, exames médicos, cartório, tudo concentrado num dia assim, lá fui. Não é que o tal mecânico liga em casa e deixa recado? O resto se pode adivinhar: Em meio dia se aprontou o carro, o resto do dia passamos em suave aventura; eu literalmente abri a caixa de ferramentas para o moço de boas pernas. Ele não sabia que eu era das boas no ramo. De tal maneira que, se antes era mais formal, com o passar dos dias foi se apaixonando. Maldade minha, porque, como vocês sabem, não me envolvo com ninguém. Minha mãe já me dizia: Cuidado com homem. No máximo, pega um para diversão. Eu não alertei o coitado, que de perna em perna, deixava suas coisas se misturando às minhas; tinha dia em que achei chave de porca na bolsa, outro dia uma estopa no colchão. Não dava tempo!
Mas como toda história tem começo, bom meio e nem sempre final feliz, a nossa não fugiu da regra. Como todo camarada bonito, ele se achava o mais belo de todos. Quando fico com alguém, quero exclusividade, já sou vacinada. Porém o que mais me incomodava no pernudo era sua ignorância.'
'Uma vez, no escuro, ele fumava um cigarro, a brasa brilhando iluminando seus olhos. Estávamos juntos mais do que nunca, depois de um dia de duro trabalho para ambos. Perguntei à queima-roupa, pois havia lido Platão há cerca de um mês:
--Conhece o Mito da caverna?
--Conheço! E como conheço!
--Ignorante, é o mito da caverna, de Platão! Dois sujeitos vêem a sombra dos movimentos lá fora e fazem elocubrações dentro da caverna, sem que saibam o que realmente acontece lá fora; decidem mandar um terceiro para ver o que é real...
--Elocu...o quê?'
'Não dá. Depois então, que falou que sua vida eram os carros, que adorava cheiro de óleo diesel, que sentia falta das bielas, mandei o camarada passear. Pode ter pernas bonitas, lindas ferramentas, mas é preciso, eu digo, é preciso que troque o óleo de sua pouca capacidade de raciocinar.'
--Gostou?
--Você é que está tomando gosto. Agora, perguntar sobre o mito da caverna, assim, de chofre!
--Até hoje não sei o que me deu. Hoje em dia, escolho a dedo, não me envolvo e não pergunto sobre tais filosofices. Só de Immanuel Kant para baixo.
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