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cronicas-->Uma Semana Estranha -- 18/06/2013 - 23:36 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Foi pegar o ónibus, ele não vinha. Demorava, era uma lenteza só, de ver de longe. Nunca que chega essa coisa! E as pessoas inquietas no ponto; tinha mulher preocupada, tinha filho no colo da mãe, tinha seu José que era barbeiro e não ia chegar a tempo, tinha seu Mané que era bilheteiro e que via alongar-se o tal tempo dilatado. Engraçado como o tempo se encurta quando a vida se esvai ou se alonga quando se está desesperado. cada segundo uma hora. Não é?

--Diacho.
--Cadê a merda desse coletivo?
--Vai ver que engrossou.
--O quê?

Quem lhe falava assim era um moço franzino, de cigarrinho na boca meio que de lado, assim bem um tipo de beira de esquina, mesmo, daqueles que saem de um bar e vão em outro; Não estava bêbado, não. Só tocaiava com o olhar a multidão que se adensava na calçada.

--Amanhã eu trabalho.
--Só você!
--Todo mundo trabalha.
--...Menos esse aí

...E olhavam para o coitado caído emborcado, um filete de saliva a escorrer do canto da boca.

--Está morto?
--Se pinga matasse, esse moço já tinha renascido três vezes!
--Ele não vai nem é ver o que vem.
--Hein?

E lá estava o mirradinho com seu cigarrinho, o bigode de malandro que denuncia a fera vestida de veludo, sabe aquele de fala mansa que te apunhala com o olho seco? Era ele.

--Ó malandro. Que é que engrossou e o que é que o gajo ali não vai nem ver?
--Está subindo.

Um rumor surdo subia pela rua; era um alarido que foi se espalhando. E vinha lá debaixo. Diria que havia uma coisa como que uma torcida; talvez um tropel.

--...E vem chegando!
--O que vem chegando?

E chegou a primeira bandeira. Um menino se esticava todo e gritava: "Vem pra rua" e outros o seguiam embandeirados, pintados, coloridos, carapintados. E apareceu uma moça que era uma lindeza, e passou um bando que corria e anunciava: "Vem pra rua"e era um tal de baticum, tambores e batidas. Que ónibus, que nada. Lá ia a multidão em massa, gente toda marchando, andares nobres, seguido de longe por uns policiais. Ninguém estava de graça; nenhum provocava tumulto, nada de pedras na mão. "Sem violência", era a palavra de ordem. Sem violência, a moça foi com o filho no colo, o magrinho desapareceu na turba, o Mané se misturou com a morena, o bilheteiro encontrou a festa que faltava e todos subiram.

Menos ele, que ficou ali caído, o filete de baba saindo da boca, sem notar que o que passou, passou.
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