--Meu caro, eu noto certa ruga de expressão em teu rosto.
--Uma só?
--...Está bem, duas.
--Assim está melhor. Mas você notou?
--Notei. Você ficou preocupado?
--Demais. Minhas pulsações se aceleraram; fiquei até com falta de ar.
--Não é para tanto.
--O chá está bom?
Lá fora, a tarde se esgueira passo a passo. Nuvens de fumo se elevam de pneus queimados, pássaros mortos caem das árvores. Nada tão poético que não se possa completar com as borboletas secas da coleção de outubro de James.
--Você gosta disso, James?
--Do quê, meu caro?
--Dessas...coitadas...
--...A mais bonita é esta imperial.
--Francamente!Mas eu vou dizer, não gosto deste seu colecionismo. Antes colecionava livros raros. Agora, estas...coisas...
--Eu as prefiro vivas, no ar, entre as folhagens da manhã de outono.
Batem as xícaras nos pires. Um enfado, noto certo ar de tédio em James, o colecionista? Que raio se passa em sua cabeça? Como podemos saber o que se passa na cabeça de um outro, que está Ã sua frente? Porque na frente de outros, é um e quando privado de seu meio, é outro. Odeio essas formalidades, essa falsidade de convívio. Prefiro os mais retos de conduta e os mais sinceros de coração.
--Alguma coisa lhe aflige, meu caro?
--Essas...coisas voadoras presas com alfinetes. Revoltante!
--Você é muito sensível, meu amigo. Fosse eu, já tinha mudado de assunto, até porque pouco me importa o que você ache ou goste. Não dou a mínima.
O chá esfriou na xícara, porque James espetado na coleção ficou de uma rara beleza. Ficou lindo ao lado da imperial, que parecia rir.