Na calada na noite, não sei se sonho ou se ao sonho se apõe um horizonte que é novo, inteiramente diverso do que eu espero imaginar, porque aos meus pés se misturam sargaços e maresia. Eu acordo de um dia ou a luz me vicia, num plano branco que me apavora? Não sei, sei lá se chegou minha hora, sei lá se se extingue a fantasia, não sei se me desarvora o juízo ou se na esquina dos dias se monta um palanque e meu pai se inflama em discurso. Diz ele, defendo a liberdade de opinião, mas pai, você não devia estar aqui e ele, menino, se ajeite que hoje te sovo se não me respeitar; deixa pra lá, velho de guerra. Ele sobe ao palanque e eu, na luz que se branqueia, esqueço que durmo e aplaudo quem sempre viveu disso, porisso eu sei, é sonho, é estar lucido e acordado ao mesmo tempo que parte de mim se arvora o direito desse exibicionismo, nos ecos do discurso que enche tavernas, na sisudez dos olhos da noite; insinua-se por trás a silhueta de estranhos planetas, por trás do vulto que ora, está a margem da Lua, por filetes de luz correm estrelas soltas que caem feito pirilampos e eu, maio exausto, adormeço, só para acordar no dia que segue e portar o estandarte do " falem mal, mas falem de mim" que é a vida que se leva, afinal.
E fim.
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