O olhar de quem vê direito é o olhar enviesado, torto, que te mede. Aquele olhar que se não digo que é perfeito, talvez seja feito de tolices,talvez seja um arremedo de olhar; tente se colocar na posição de quem te olha sem ver, como se tu nâo tivesses importância: O que vê este olhar? O olhar que realmente te vê te enclausura, te transforma em formosura do outro. O olhar de quem se importa impressiona tua retina, mobiliza teu amor interno, mexe com tua alma e o sonho do que viria a ser se torna objeto de tua especulação.
Quem te vê, espera uma resposta ao mirar e tu não o consegues e veja bem, és tu que o vês agora, sabendo das perguntas que são mais do que respostas em cada gesto. Cada maneira, como se move um pescoço, o mover-se como numa piscina de lágrimas, o agitar de tua mão é uma quimera, a esfinge que é teu rosto desespera quem te olha e teme a contraprova: Talvez um duro mirar, talvez um sorriso que não diz nada, talvez a alma empedernida num frio assenhorear-se de tua audácia.
Tua audácia se faz em teu queixo erguido, belo nariz em ponta, olhos de puro mar azul e sargaços. Teu lhar, firme e dirigido, não teme nem teu olho que boia nem tua boca que murmura distraída uma oração qualquer ou coisa que o valha, num preparo de soluços. Ah, banhar-se em tais delícias, ah, bailar em tamanha ausência, é num olhar assim que os sonhos se expandem, veja bem.
E apenas então, num breve piscar, num brilho de dentes, a cabeça de lado, tua presença se torna gigantesca, e tua vinha é mais de ira que de tamanho. Corres enxuta em direção ao mar, apenas passaste breve ao lado mas se cruzaram nossos pensamentos e a eles se juntam as águas do Oceano que nos separa.
E vai, sereia de um barco de luz que se espraia no horizonte. Você na popa. Eu de longe, ergo a mão e aceno a suave despedida. Aí, sim, o teu olhar ganha profunda dimensão.
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