A primavera inaugura um outubro memorável. Começa por hoje, dia 1º, a lembrar dos velhinhos em sua data comemorativa. Os otimistas entram em júbilo e os pessimistas dão de ombros, num sinal de tanto faz. Eu pessoalmente só soube desse consolo, ao ouvir um professor na emissora de rádio. Mas posso dizer que me sinto lisonjeado, a despeito de toda etarite possível. Sábado próximo é a vez de minha neta Nathalia, agora bostoniana. Parece que foi ontem que a carreguei no colo. Ela nasceu dois anos antes da Constituição, que coincidentemente completa bodas de prata na mesma data. À primeira, por ser parenta e querida do vovó, posso dizer que amo e a segunda, pesada nos 252 artigos, respeito e cumpro.
Indago aos leitores destas linhas, qual foi a última vez que abriram o livrinho federal. E, se aberto para ler, tenham se dado conta do artigo quinto, pétreo, a rigor. Se formularmos a mesma questão a um religioso, duvido que ele haja trocado sua surrada e grudenta bíblia pela Carta magna. Vale dizer que apesar de sua não leitura, sua ínfima disposição para folheá-la, ainda terá sido ela que teoricamente defenda dia e noite sua cidadania. Mas agora vêm os principais motivos que fazem de outubro um mês singular: no dia 15, meu amigo Sócrates Olímpio Freitas Neto, homem de telefonia, ex-funcionário da Ericson, hoje banida do Brasil. Generoso, culto e tricolor amigo de tantas horas.
E para culminar essa pauta de comemorações, no dia 19 deste mês que inicia o quarto trimestre do ano, o evento poético literário e boêmio: o centenário do poetinha Vinícius de Moraes.
Embora sobre ele já se saiba demais, incluindo a "Canção do amor demais", gravada por Elizeth Cardoso, vale a pena homenageá-lo. Vinícius é um marco na história da literatura, da música e da popularidade. Ele é parceiro de tanta gente, desde Tom Jobim e Dolores Duran, a Adoniran, Chico, Toquinho. Modesta e serenamente, segue abaixo esse soneto, que foi um gênero tão presente em sua vasta e definitiva obra. Espero que os leitores apreciem e se enterneçam tanto quanto eu.
SONETO AO POETINHA
para Vinícius de Moraes
in memoriam
Se alguém encontrasse o poeta
A candomblar as loas da poesia
Iria parar e aviar discreta
Uma morna tardinha na Bahia
Uma mesa posta, toalha branca
De renda feita à mão de Oxalá
E sobre ela a culinária franca
Acarajé, caruru e abará
O poeta contrito ressuscita
Do jeito que viveu intensamente
Ainda que só seja temporária
Sua passagem e por ser inscrita
Na efêmera quadra do presente
Seja breve, pois, mas centenária.
WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
1º/10/2013
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Marcus Vinícius de Moraes - Rio de Janeiro, 19/10/1913 e 09/07/1980