Nossa, a hora passou. De repente, uma da manhã. Raios. Ou sou eu o atrasado ou o relógio se adiantou a mim. Nao vemos o tempo passar! Tudo é relativo, já dizia um físico. Aliás passando em revista, se o que se faz é bom o tempo se contrai e se o que se vive é duro, dilata-se o tempo da alma. O relógio funciona então como o escape de nossas melhores--ou piores--desculpas.
--Não vai dar, estou atrasado!
--Olha lá o sinal, vai abrir!
--Estou atrasado, mas chego breve!
--Que horas são estas em que ainda respiro? Já era tempo de desafogar!
--Tenho dentista hoje.
--Coisas de artista. Vivo dando nó no tempo!
E passa o tempo em nossos mundos reflexivos; a mulher se olha no antigo espelho e recorda o tempo em que foi uma linda cantora de ópera, o meu amigo se olha e diz que o melhor amigo dele é o espelho, eu faço questão de nao ter relógio ao pulso porque adoro matar o tempo jogando conversa fora; a gente não vê os pulsos da história passando em gotas quànticas?
Daí meu espanto porque perdi uma hora de meu mundo e todo um mundo ganha sua hora particular, no último segundo de nossa era milenar.